PEDAÇOS DA ALMA





Escrever é inevitável como toda paixão. Um ato de amor que dá à luz a palavra em inúmeras vidas. Numa destas reencarnações do sentido, ela representa o corpo da pessoa amada.
Há uma espécie de erotismo ligado à palavra que se cola, molda, invade, possui e domina a inspiração.


A labareda do desejo envolve o corpo da palavra numa entrega amorosa. Algo foi escrito. Fez sentido.


Escrever eterniza o amor.


Talvez seja por isso que escrevemos: fuga do ponto final humano e mortal.



Entretanto, o amor interrompido encontrará abrigo. Nas entrelinhas a dor ganha colo, dissolvida no abraço da palavra. O sentido desata o nó da garganta. E a saudade se debruça no parapeito de um parágrafo.



Nem sempre escrever dói, mas exige coragem.
Entender a linguagem da palavra é mergulhar a existência numa tela de letras.


Nada é mais generoso do que o papel em branco ao receber cada uma destas linhas.


O pensamento em carne viva pode, enfim, respirar.


Quem escreve recria o mundo para traduzir o que não coube lá fora, nem dentro de si mesmo.


E lança sua idéia ao fogo da criação desejando que o leitor não queime as palavras depois de ler, embora seja livre para fazê-lo: então, queime.


No entanto, o que foi escrito é parte da alma de alguém...






(*) Imagem: Google

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Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 17/08/2009
Reeditado em 17/08/2009
Código do texto: T1759277
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