Carências
Alguns, ou talvez um grande número de maridos deva ter passado por situação semelhante à que vamos narrar e, provavelmente, pelos mesmos motivos a seguir.
No passado, o “patriarca”, o “machão” perseguia sua realização profissional, pois era o “provedor do lar”. Ao marido cabia a responsabilidade de obter os recursos necessários ao bem-estar da mulher e dos filhos. ‘A mulher cabia cuidar dos filhos e da casa.
Acreditamos que as “amélias” deveriam sentir certas frustrações. Provavelmente, fluíam pensamentos em suas mentes do tipo: “enquanto ele está no convívio de pessoas, fazendo o que gosta, eu estou aqui sozinha cozinhando, lavando e passando; está sempre tão preocupado com seu trabalho que, praticamente só me procura para fazer amor”.
Da mesma forma, na cabeça do “marido provedor” desfilavam fantasias do tipo: “ quando vou chegar em casa e a minha exaustão de um dia de trabalho, será poupada de aquele rol de reclamações domésticas”.
No presente, a mulher tornou-se sócia da atribuição de “prover o lar”, mas não pode deixar de acumular algumas funções intransferíveis da maternidade, bem como acumulou outras que, apesar de serem possíveis de transferência ou divisão com o sócio-macho, continuam sendo acumuladas pelas mesmas por uma simples determinação cultural.
As “amélias do passado” reagiram e as “sócias”, precursoras das economias globalizantes, continuam reagindo a essa relação sem sintonia e desequilibrada da mesma forma.
Deram e continuam dando sinais claros de insatisfação. Utilizaram e utilizam a arma convencional, politicamente e socialmente correta, utilizada e aceita para as lutas de classe - a greve.
Sempre ao deitar, com palavras de ordem: “estou tão cansada hoje; estou cheia de dor de cabeça; estou morrendo de sono”; comandaram e comandam os movimentos grevistas.
O machão encurralado, carente, reage e procura nas mais diversas situações, um corpo para a realização de seus desejos não satisfeitos. É justamente nesse período de solidão e desencontro que ele percebe que não é um corpo, mas sim o corpo da sua “amélia”, ou da sua “sócia globalizada”.
Percebe que a história vivida juntos, facilita as juras de “até que morte os separe”. Mesmo assim, com dúvidas e restrições, pois se existe vida após a morte, porque não continuar...
“Reencontro” registra esse estado de consciência do machão e afirma o óbvio: “na solidão não dá para viver”. Registra, também, o reconhecimento de que é na parceria, em estado de paz, amor e prazer, que é muito bom viver.
Reencontro
Não, na solidão
não dá p’ra mim,
nem pra ninguém
viver assim.
Eu preciso de um corpo
p’ra parceiro do meu leito,
pois assim, desse jeito,
não vai dar p’ra suportar.
Eu preciso de um corpo
p’ra, no balé da criação
e na anarquia do minuto,
as asas da liberdade
transportarem meu coração.
Não, eu não preciso de um corpo,
eu preciso é do teu,
pois é nas lembranças
dos momentos que passaram
e na esperança
dos momentos que virão
que vou tratando, um a um,
os males deste meu pobre coração.
Sim, é na parceria
de mim, José, e você, Maria ,
que é bom viver
e a nossa rima vai ficar assim:
paz, amor, prazer e fim.