A angustia da página em branco

Quem escreve, em geral tem um único tipo de preocupação: escrever. Nem precisa ser de maneira profissional, basta que o texto seja satisfatório a quem se destina ou até mesmo para o próprio autor (eu, por exemplo, tenho pilhas e pilhas de texto que adoro, contudo considero-os impublicáveis). Sendo assim, os fins de semana me deixam impaciente, já que é o período em que tenho que escrever algo novo, e por isso mesmo sinto que as palavras meio que fogem de mim.

Alguém certa vez disse (ou, mais adequadamente, escreveu) que a luta com as palavras é a luta mais vã. Afirmativa verdadeira em muitos aspectos. Diante das palavras o escritor se torna um guerreiro ou até mesmo um xamã que exorciza a falta de criatividade, atraindo para si os bons espíritos, as boas idéias, o bom texto. É sério, escrever até parece magia quando nos vemos hipnotizados por um bom livro. Neste instante mesmo contemplo alguns magos e seus feitiços, aprisionados em minha estante: Machado de Assis, Rubem Fonseca, Vargas Llosa, Gustave Flaubert, Honoré de Balzac e por aí vai.

(ah, bom Deus, fazei-me instrumento de vossa vontade, transformando vossas imagens oníricas em um texto capaz de encantar as multidões!) Às vezes, fervoroso, clamo ajudas aos céus para superar os desafios de uma página em branco; outras, ateu, amaldiçôo-me na minha própria falta de fé. Tem gente que quando escreve é toda alma e tem gente que é toda cabeça. Uns sabem, outros inventam. Alguém consegue fazer o dever de casa ou então joga verdadeiros Lusíadas no lixo. Com inspiração, sem inspiração. Com texto, sem texto, os resultados de minha concentração ainda me espantam. Escrever é luta solitária que não se pode vencer sozinho. Envolve a solidão e o crepúsculo, mas também envolve as vozes do passado – os autores que um dia lemos – e a aurora. Não importa o resultado que se alcance, meu texto vai ser no máximo bom ou ruim, no entanto, o esforço que desperdiço ao fazê-lo me revela, no final, quem sou e quem somos. E já que se falou em vozes do passado, neste instante mesmo escuto um Drummond de anos atrás: “Palavra, palavra (digo exasperado), se me desafias, aceito o combate”.

Thomaz Ribeiro
Enviado por Thomaz Ribeiro em 16/08/2009
Código do texto: T1757170