OS RELINCHOS DOS NOSSOS SENADORES
(sem ofensa aos animais)




Eu ainda não tenho uma opinião formada a respeito das transmissões ao vivo das sessões do Congresso e da Câmara dos Deputados. Chega a ser lamentável, quase que diariamente, assistir a essas sessões através dos meios de comunicação, principalmente aquelas que são feitas a partir do Senado Federal.
 
          Na década de 60 o músico Juca Chaves citou que: “É palavrão que só sai pra todo lado / Se um senador abre a boca é um atentado / E a mãe de alguém é que sofre toda vez / No fim do mês, 120 mil de ordenado / Caixinha, obrigado”. Essa sátira apenas relembra que nada mudou. Ou melhor, mudam algumas moscas, mas a merda é sempre a mesma.
         
          Em abril deste ano presenciamos em tempo real a lamentável discussão entre dois ministros do Supremo, sendo um deles seu emérito presidente.
 
         Quem presenciou o asco e os relinchos com os quais o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL) se dirigiu ao seu colega de casa Pedro Simon (PMDB-RS) remete-nos aos tempos de Roma, onde Calígula nomeou seu cavalo Incitattus como senador. 
 
          Um sujeito, que foi chutado da presidência da República através de um impeachment, que teve seus direitos políticos cassados por oito anos (mesmo tendo renunciado), que perdeu totalmente a ética e a compostura (se é que as teve um dia), tem o direito de comportar-se dessa maneira? Fez lembrar o dia 5 de dezembro de 1963, quando seu destemperado pai envolveu-se num episódio inusitado ao disparar três tiros contra o senador Silvestre Péricles, seu inimigo político, dentro do Senado Federal. Péricles estava na tribuna, a cinco metros de distância, e não foi atingido. Um dos tiros acertou errôneamente o peito do senador José Kairala, do Acre, que morreu em seu último dia de trabalho. Apesar do assassinato, e ainda que tenha sido dentro do Senado Federal, na presença flagrante de inúmeras autoridades, o pistoleiro não teve seu mandato cassado, e nem nenhuma punição imposta pela Mesa, devido à imunidade parlamentar. Seu nome: Arnon Afonso de Farias Mello, deputado federal, governador e senador por Alagoas. Hoje, sua cria continua seguindo seus passos, também com as botas sujas de merda.

          Outra cena vil presenciada recentemente por todo o Senado e transmitida ao vivo pela TV, envolveu Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Renan Calheiros (PMDB-AL), onde o primeiro chama o segundo de “cangaceiro de quinta categoria”. Aí veio a réplica, depois a tréplica e não sei mais quantas. Todas de baixíssimo nível. É bom lembrar que o senador alagoano que fez parte da "tropa de choque” do governo Collor de Melo, teve que renunciar porque, segundo a acusação, uma empreiteira pagava pensão para sua filha de um relacionamento extraconjugal. A origem da tal filha não interessa, o grande problema é a sacanagem que rola nas altas esferas em busca das benesses oferecidas.
 
          Mas o que mais me enoja é o motivo da tal discussão entre esses dois últimos senadores: o presidente da casa, José Sarney. Não vejo razão para comentar mais sobre o fato, pois acredito que todas as pessoas devidamente esclarecidas estão a par do que acontece com o “dono do Estado do Maranhão”. Se a discussão ainda fosse por uma causa nobre, vá lá. Mas, discutir-se por um sujeito desses chega a ser uma ofensa gravíssima a todos os cidadãos de bem deste pobre e traído país.
 
          O hilário Barão de Itararé afirmou certa ocasião: “Voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato”.
 
          Alguém discorda?
 
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