UMA CRÔNICA IRREVERENTE
Esta é uma crônica verídica e pensei intitulá-la: "Colunáveis Anônimos", mas a irreverência pura ganhou!
Há alguns anos atrás sofri uma inflamação do nervo ciático. Nunca poderia supor que algo pudesse limitar tanto meus movimentos.
Ao andar parecia um robô de um antigo seriado.
Fui ao ortopedista que recomendou sessões com o fisioterapeuta de sua confiança (e comodidade, afinal trabalham no mesmo espaço).
Estava na sala de espera, junto a outros infelizes, que mal conseguiam se mover, quando outro paciente chega.
Sua entrada parecia ensaiada. Começou a falar sem ponto nem vírgula. E, juro, achei que era algum ator, contratado pelo médico para aliviar a tensão muscular dos pacientes, antes mesmo de começar as sessões fisioterápicas.
E o homem desatou a discorrer sobre quem era! Pasmem: um conde!
Não! Ninguém havia perguntado nada, mas isso seria um mero detalhe para aquele homem disposto a compartilhar a nobreza de sua biografia a qualquer preço.
As pessoas se olhavam, cúmplices, em uma espécie de campeonato para evitar o riso.
E então, entre as aventuras do conde, eis que começa a explicar sua presença na noite paulistana! Os inúmeros convites recebidos o impediam de estar presente em todos os eventos. Por isso, sorteava dois deles, por semana, comparecendo apenas naqueles contemplados pelo acaso.
Escutei toda história como uma encenação teatral compulsória e quando o fisioterapeuta chamou meu nome, indicando que entrasse em outra sala, levantei, torta como a Torre de Pisa, e o homem disse:
- Encantado em conhecê-la.
- Senhor conde, reverência, nem pensar! Olhe a minha situação!
Os outros pacientes me agradeceram em silêncio... E finalmente puderam rir!
(*) Imagem: Google
http://www.dolcevita.prosaeverso.net