Um minuto em paz comigo
Esperava que a tarde se despedisse de mim para a chegada das estrelas. O sol à minha frente quase inexistente e o vento cada vez mais frio.
O balançar dos meus curtos cachos rebeldes e loiros, os meus olhos vazios a fitar o nada - talvez visse o céu, as folhas das árvores, não sei.
Barulho de avião, ônibus cheio passando na rua, pássaros cantando - estava entregue ao prazer. Blusa de frio; balanço de árvore; eu, sentada no banco; o resto de raio de sol com um fio de luz a iluminar meu rosto; meus olhos, de um castanho escuro quase preto, retorcem-se para não me deixar chorar.
Sombra de aprendiz, mistura de menina com mulher, mãos, lápis, caderno, coxas, seio, nariz, boca, cílios, barriga... e o vento.
O sol se foi, me deixou com toda passarada a cantar, ainda tenho céu azul, ônibus cheio, balanço de árvores; ainda tenho lápis, papel. Não tenho sombra, mas tenho a mim.
Sinal de escola, crônica louca, rapaz sentado a dois bancos ouve música e sorri sozinho. Menina bonita, bicicleta, caminhão, moto, barulho de gente, barulho de pássaros - só conheço o canto do Bem te vi. Barulho de carros, cachorro latindo, lápis passando no papel, eu me ajeitando, olhando para o lado, para o céu.
Não ouço nada!
O barulho continua.
O silêncio vem de mim.