Regra três


"Tantas você fez
Que ela cansou
Porque, você rapaz
Abusou da regra três
Onde menos vale mais"

Toquinho e Vinícius de Moraes


Recentemente, presenciei uma conversa que me fez refletir no relato que segue: 
 
 _É você que é Rose esposa de Samuel?

Perguntou a mãe de  Deise, que por sua vez, estava noiva de Samuel, sem saber que ele era casado.

_Eu sou Rose sim, mas não sou casada com Samuel, e sim, com o irmão dele. Por quê?

_Porque ele está noivo de minha filha de vinte anos e me disseram que ele é casado com uma mulher chamada Rose,com todas as características que me deram e as informações de onde você trabalha,resolvi vir aqui pra saber a verdade. Você sabe me dizer se ele realmente é casado, se é um homem de bem?

_Se ele é um homem de bem? Nossa! Ele é maravilhoso. Diria que ele  é o marido ideal pra sua filha. Pode acreditar, ele é divorciado já há algum tempo, muito trabalhador, honesto... Tudo de bom!Pode ficar tranqüila.

Respondeu Rose.

A mãe de Deise agradeceu pela conversa e voltou pra sua casa em um município próximo ao que seu futuro genro morava.

A tia de Rose, espantada com a reação da sobrinha, exclamou:

_Não estou acreditando no que presenciei... Depois de tanto tempo de matrimônio seu marido apronta uma dessa com você e você reage dessa maneira?O que foi que deu em você hein?

_Veja  só, queria que eu fizesse o quê? Que fosse morrer, gritar, agredir a mãe da noiva, ir até lá onde ela mora e fazer escândalo, ou então, ligar pra ele dizendo-lhe um monte de desaforos? Nada disso!

Já em casa, Rose caprichou na roupa do marido, na sua comida preferida, e aguardou a sua chegada. Quando ele chegou, agiu como se não soubesse de nada. Ele, desconfiado, constrangido pelo que fez se aproximou dela e falou-lhe:

_Rose, como foi que você teve coragem de dizer que era casada com meu irmão?Por que você disse aquela senhora que eu era separado?Ela veio saber informações a meu respeito. Você poderia  ter dito a verdade.

_Ora, ela não me procurou atrás de meu marido. Ela veio atrás de saber sobre o noivo da filha dela. Você não é esta  pessoa, porque não foi com esse tipo de homem que casei. Afinal, você não teria coragem de fazer isso comigo, teria?Ser desleal com alguém que sempre te amou e que só tem olhos pra você?Não. Você não é um homem de mau caráter, ou estou tão enganada assim, depois de tantos anos de cumplicidade afetiva entre nós dois?

Samuel ficou em silêncio por um instante, depois saiu. Foi para um bar, e se embriagou com bebida alcoólica, retornando pra casa de madrugada.
Deixou  a noiva (evitando a bigamia) e conviveu com Rose e suas duas filhas, por mais um ano.

Passado um ano, após o episódio, voltou a passar por solteiro, até que um dia, ao chegar em casa só encontrou a casa vazia.Rose,por sua vez, resolveu ir embora mais suas filhas.

Cinco anos depois, Samuel se deu conta, da importância de sua família, mas foi tarde demais... .A decisão de Rose foi irreversível.

Ao terminar de ouvir o depoimento exposto, refleti o quanto é importante à questão da lealdade em nossas vidas, pois a meu ver, além do crime de Bigamia, infidelidade, o companheiro de Rose, foi desleal com ela, com ele mesmo, os filhos... Enfim, com o amor.

Entende-se que o ser humano, tenha suas limitações...

Neste sentido, o bom senso, o compromisso ético e humano, no mínimo é  necessário para uma boa convivência, além de tantos outros elementos indispensáveis para um relacionamento inteiro e mauduro, como a confiança, lealdade, diálogo aberto, por exemplo.

Por fim,  na intencionalidade do cônjugue em viver harmoniosamente, deve-se haver o zelo um pelo outro pra que a convivência afetiva seja duradoura: na sinceridade, companheirismo, amizade... Enfim, nos sentimentos. Até porque não é uma atitude inteligente, brincar com as emoções alheias, querer viver a vida do outro, negar sua identidade, nem se anular, mas agir com maturidade  de modo racional, humano e consciente, procurando fazer valer a pena cada momento partilhado, sem ultrapassar os limites de tolerância um do outro, cultivando o amor em sua plenitude.




 

Antonia Zilma
Enviado por Antonia Zilma em 15/08/2009
Reeditado em 14/09/2022
Código do texto: T1755645
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