ENCONTRO COM JÚPITER

A Estrada das Cabras é considerada de alto valor paisagístico. Vai serpeando, enquanto sobe suavemente ao seu destino de precisos 1030 metros. Na região, as fazendas antigas imperam, bem conservadas, cercadas de árvores majestosas. As primaveras estão floridas e espoca a floração cor de ferrugem de algumas árvores espalhadas, especialmente profusa este ano, provavelmente devido às condições climáticas. O sol banha os pastos e colore o capim verde amarelado. O gado pasta os últimos capins, enchendo o ruminadouro, para ruminares futuros. Dirijo calmamente, pela estrada deserta. O ambiente bucólico transmite paz. Estou a meu gosto, a estrada é o pretexto; o encontro interno é o propósito... Talvez essa seja a minha forma de meditar. A vegetação que ladeia a pista é alta, formando uma aléia extensa. São espadas verdes cruzadas ao alto num caminho preparado para recepcionar e homenagear os viajantes.

O asfalto termina e começo a subida pela estrada de terra, bem conservada. Mesmo assim vou deixando um rastro de poeira, o que é muito divertido. Sigo rindo e saboreando a alegria de estar fazendo arte... Mas logo lembro do respeito ao ambiente e modero a velocidade. A poeira é branca; o solo da região é granítico, pedregulhoso. Há pedras enormes que parecem ter sido espalhadas por algum movimento sísmico, tal quantidade e o aspecto. A subida torna-se íngreme, cada vez mais. O carro vai tão inclinado que o aviso de baixo combustível acende, causando-me um susto. Alguns avisos indicam que estou chegando. Dizem eles: Observatório – use apenas luz baixa.

No local, as casas não possuem iluminação externa. Acabo de chegar ao Observatório Municipal de Campinas.

Orlando Rodrigues Ferreira passa seu tempo fazendo cálculos astronômicos. É um filósofo, mas não é a reflexão filosófica que o leva a isso. Acabo de chegar ao Observatório Municipal de Campinas. Orlando Rodrigues Ferreira é pós graduado em Astronomia e atualmente é o Astrônomo chefe do Observatório.

Quem lucra com esse casamento, à primeira vista estranho, é a platéia que ouve a sua palestra sobre o planeta Júpiter. Falando primeiramente sobre Júpiter na mitologia, ele expõe com desembaraço os elementos mitológicos que envolvem os planetas, os aspectos da nossa contagem de tempo, a origem da nomenclatura dos dias da semana e dos meses, nos diversos idiomas. Demonstra um conhecimento que vai do idioma grego às questões cósmicas, aos números e cálculos, com um número de casas mil vezes maior do que aquele a que estamos acostumados. Mas isso ainda não é tudo. Ele é também um poeta. Nas redondezas do Observatório há uma laje de granito; ele conta que, muitas noites, durante certo período, quando terminava as observações, levava um saco de dormir, uma lanterna, prancheta e papel e ia para o local, onde olhava o céu e escrevia poemas. Dali surgiu o livro Colchão de Granito. O livro ainda não foi publicado, mas tenho certeza de que são belos, os textos. Quando perguntado sobre a relação entre as duas coisas ele diz: -O céu é poesia; o Universo é filosofia.

Orlando coordena um grupo de astrônomos cujo propósito, além dos da matéria de seu trabalho, é divulgar a astronomia, principalmente para as crianças. Foi uma experiência gratificante ouvir as explicações, observar algumas constelações, até mesmo alguns satélites artificiais. O astrônomo tem uma lanterna, com um facho de laser, que localiza exatamente no céu aquilo que ele está comentando. Enquanto Júpiter subia no céu, o telescópio foi aberto para a observação de Alfa Centauro, um sistema trinário. A recomendação foi para que se aproveitasse a oportunidade de contemplar a Via-Láctea; Nesse local, estima-se que daqui a cinco anos ela não mais será visível, por causa da luminosidade crescente das cidades. Depois disso, pudemos olhar Júpiter, em grande aproximação com a Terra, com três de suas luas visíveis no dia de hoje e, isoladamente, com suas manchas e sua coloração...

Do tamanho da tampa de uma lata de palmito. E não está bom?

Nilza Azzi

Para os poetas notívagos deixo o aviso de que o planeta se apresentará como um astro intensamente brilhante, com magnitude -2.42 e com destacada coloração branco-prateada; aparentemente se deslocará pela esfera celeste até registrar sua passagem meridiana à 00h13 e prosseguindo para o seu ocaso às 06h33.

Observatório Municipal de Campinas “Jean Nicolini”

Estrada das Cabras (CAM 245) s/Km, Monte Urânia, Serra das Cabras, Distrito de Joaquim Egídio, _ (19) 3298-6566, Campinas/SP.

Latitude (f): 22º53.59’59.9” Sul – Latitude (_): 46º49.49’30” Oeste – Elevação (h): 1.030 m

Correspondência: Rua José Inácio no 14, Distrito de Joaquim Egídio, Campinas/SP, CEP 13108-006.

Astrônomos presentes:

Orlando Rodrigues Ferreira

Júlio Lobo

Walter Maluf

Julio Penereiro

www.observatorio.campinas.sp.gov.br