DE PSICOPATA, BUNDA-MOLE E SEM-NOÇÃO, TODO MUNDO TEM UM MONTÃO

Ultimamente tenho me interessado bastante pelo perfil do psicopata. Vou repetir aqui o que vários me perguntaram: - Olha, o interesse nada tem a ver com a tal moça da novela! - É muito para minha cabeça ter que esperar o próximo capítulo para obter uma migalha de conhecimento vindo da maravilhosa Glória Perez.

Fui atrás destas informações por medo de, eu mesmo, ser um deles. Quem quiser rir pode, mas o assunto foi sério. Sabem, é que, às vezes, me surpreendo com minha inabalável frieza diante de determinadas situações. Como no caso, por exemplo, de observar pessoas sofrendo nas ruas, vagando sem rumo, sujas, perdidas, magras, cambaleantes. Sinceramente, e sem rodeios, não consigo mais me comover. É como se estas cenas fossem algo natural, irremediáveis como a chuva, as marés, o dia e a noite. Faço que nem é comigo. Não consigo mais sentir raiva, espanto, desconforto. Sinto-me pior com a ausência destes sentimentos ligados à compaixão, e que considero básicos para qualquer um que se diga humano, do que se efetivamente sofresse com a situação destes desfavorecidos.

Falo “mais” desfavorecidos porque não me considero assim tão distante deles... Diante de mendigos paro; olho; penso e faço rapidamente contas. Sempre chego à mesma e mesquinha conclusão: é muito mais fácil resolver em curto prazo o problema de vida de qualquer um deles do que o meu.

- Olha aí... Até que ando bem arrumadinho, roupa passada, banho tomado, carro, mas tenho muito mais dívidas do que uns 150 coitados destes juntos. É gasolina, casa, prestações, mensalidades e por aí vai... - Reflito que, por acaso não houvesse todos estes encargos a morder meus calcanhares, não houvesse uma “imagem” a ser zelada coagindo a buscar soluções para estas obrigações todas, será que não estaria eu, por aí, a vagar, perdido, como eles? Que mérito real haveria neste meu modo de vida, que não fosse, lá no fundo, apenas um “orgulho besta”? E mais: será que a distância entre uma cama quentinha e a miséria seria apenas graças a este conveniente defeito de minha “soberba”?

Nesta egoística ponderação, é que vejo o quanto me distancio do humano, ao não sentir a rudeza da situação; ao desconhecer o drama pessoal e único pelos quais passam cada um deles. Sem falar das humilhações sofridas, da falta de oportunidades, tais como lazer, educação e saúde, da natural entrega aos vícios, da cotidiana falta de amor... Mas até esta argumentação é tão comum, tão batida... Verdade: o mais difícil de ser visto, é sempre o mais óbvio.

Abordando-se a situação por este ângulo poderia até ser mais fácil que eu sentisse algo. E realmente eu sentia: Apenas culpa e mágoa de minha própria indiferença. Havia uma cobrança interna por conta de minha frieza e egoísmo. Dos males, o menor: Sendo estes sentimentos bastante humanos e frágeis concluí que me distanciava justamente neste ponto da tese de ser, "eu mesmo", um psicopata em alto grau. Foi que intuí a claríssima conclusão que, “de psicopata, bunda-mole e sem-noção todos nós temos um montão”.

Acho que é exatamente pela ausência destes sentimentos em mim e em muitos outros que o mundo não evolui emocionalmente com a mesma velocidade e qualidade que progride o conhecimento. A humanidade está emocionalmente muito próxima de um estágio comparável a de um gigantesco parque de diversões contendo algumas poucas e saudáveis crianças que brincam de cutucar o próprio umbigo. Enquanto isso, os menos privilegiados do lado de fora da cerca, não menos infantis, não acham graça alguma em cutucar seus próprios umbigos, e, iludidos, almejam brincar com os umbigos das crianças do interior do parque, só porque elas estão lá. Porém, crianças sempre são crianças e umbigos, são umbigos, não importa de quem.

Quanto aos psicopatas contumazes, meu interesse continua a todo vapor. Para concluir, direi que encontrei o melhor lugar do mundo para acompanhá-los em toda sua glória e, ainda, estarei fartamente documentado: O Congresso Nacional Brasileiro. Ali, psicopatas se esbaldam tais como tubarões em meio a um cardume de sardinhas.