Quando aprendi o beabá
Puxa vida! Eu era pequeninho quando alguém apresentou-me as primeiras noções de alfabetização e de forma bem rudimentar. Isso foi feito como uma brincadeira para distrair um irrequieto menininho que só tinha quatro anos. Entretanto, como interessei-me bastante pela coisa, acabaram jogando em minha mão aquela antiga cartilha “Caminho Suave”. Imaginaram que munindo-me de algo com figuras coloridas eu me aquietasse. Mas que nada! Ungido por aquelas superficiais orientações e com aquela poderosa ferramenta nas mãos, em dois eu três dias eu já conseguia ler o Pato Donald. Mais alguns dias se passaram e eu descobri o Diário Popular. As semanas não somavam um mês e fui apresentado a Monteiro Lobato. Desde então, o céu passou a ser o limite.
Ah! Mas tenho mesmo é saudade da “Caminho Suave”, porque a partir dela é que o universo passou a ter para mim, enfim, a dimensão infinita inerente a ele. O encanto de notar as idéias e conceitos espelhados em palavras, fez com que minha ingenuidade infantil viesse a pressupor que tudo que existe para se saber estava escrito em algum lugar. Mas a cartilha era “suave” não só pelo brando método de alfabetização, como também porque pinçava como exemplos de mundo as situações mais inocentes possíveis.
Depois daquela cartilha, nunca mais encontrei nada escrito que preservasse tanta pureza. Porém, acho que a pureza estava em mim, e não naquele livro. Isso porque, quanto mais avancei nas leituras, mais consegui decifrar as entrelinhas e estas, certamente, por serem subliminares, não hesitam em camuflar a malícia e a maldade humanas, pondo à prova a capacidade de todo leitor de decifrá-las. Suponho que a isso se chame “censo crítico”.
A gente dedica anos para adquirir um mínimo de cultura básica que esteja registrada de forma escrita, para se deparar, num momento qualquer, com aquele ditado chinês que diz que a palavra é prata, mas o silêncio é ouro. E o silêncio, em si, não se grafa, porque não contém nenhuma palavra, obviamente. É verdade que esse tesouro que é o silêncio, diz respeito à introspecção, à meditação, à reflexão, à continência e outros tantos desdobramentos que uma alma equilibrada deva cultivar.
Todavia, há o silêncio que é fruto da ignorância, repressão ou censura. Há o silêncio que decorre da omissão da verdade ou do disfarce de uma mentira mal contada. A ausência de palavras, nesses e em outros tantos maus exemplos, nada tem a ver com sua cotação e paridade em ouro. E esses silêncios perniciosos não estavam escritos em minha cartilha. Talvez por isso, esta vida não seja um caminho tão suave assim.
Puxa vida! Eu era pequeninho quando alguém apresentou-me as primeiras noções de alfabetização e de forma bem rudimentar. Isso foi feito como uma brincadeira para distrair um irrequieto menininho que só tinha quatro anos. Entretanto, como interessei-me bastante pela coisa, acabaram jogando em minha mão aquela antiga cartilha “Caminho Suave”. Imaginaram que munindo-me de algo com figuras coloridas eu me aquietasse. Mas que nada! Ungido por aquelas superficiais orientações e com aquela poderosa ferramenta nas mãos, em dois eu três dias eu já conseguia ler o Pato Donald. Mais alguns dias se passaram e eu descobri o Diário Popular. As semanas não somavam um mês e fui apresentado a Monteiro Lobato. Desde então, o céu passou a ser o limite.
Ah! Mas tenho mesmo é saudade da “Caminho Suave”, porque a partir dela é que o universo passou a ter para mim, enfim, a dimensão infinita inerente a ele. O encanto de notar as idéias e conceitos espelhados em palavras, fez com que minha ingenuidade infantil viesse a pressupor que tudo que existe para se saber estava escrito em algum lugar. Mas a cartilha era “suave” não só pelo brando método de alfabetização, como também porque pinçava como exemplos de mundo as situações mais inocentes possíveis.
Depois daquela cartilha, nunca mais encontrei nada escrito que preservasse tanta pureza. Porém, acho que a pureza estava em mim, e não naquele livro. Isso porque, quanto mais avancei nas leituras, mais consegui decifrar as entrelinhas e estas, certamente, por serem subliminares, não hesitam em camuflar a malícia e a maldade humanas, pondo à prova a capacidade de todo leitor de decifrá-las. Suponho que a isso se chame “censo crítico”.
A gente dedica anos para adquirir um mínimo de cultura básica que esteja registrada de forma escrita, para se deparar, num momento qualquer, com aquele ditado chinês que diz que a palavra é prata, mas o silêncio é ouro. E o silêncio, em si, não se grafa, porque não contém nenhuma palavra, obviamente. É verdade que esse tesouro que é o silêncio, diz respeito à introspecção, à meditação, à reflexão, à continência e outros tantos desdobramentos que uma alma equilibrada deva cultivar.
Todavia, há o silêncio que é fruto da ignorância, repressão ou censura. Há o silêncio que decorre da omissão da verdade ou do disfarce de uma mentira mal contada. A ausência de palavras, nesses e em outros tantos maus exemplos, nada tem a ver com sua cotação e paridade em ouro. E esses silêncios perniciosos não estavam escritos em minha cartilha. Talvez por isso, esta vida não seja um caminho tão suave assim.