Entre a humildade e a submissão
Existe um provérbio oriental que diz: “Quanto mais carregado de grãos estiver o pé de arroz, será o quanto mais ele se inclinará”. A milenar sabedoria oriental é de uma profundidade espantosa; ela é ímpar em seus conceitos de comportamento humano, sempre nos permitindo auferir lições de vida, de cunho espiritual e psíquico, na mais alta esfera de cultura e conhecimentos. A maneira metafórica de expressão, usada pelos sábios do oriente, nos conduz a patamares de alto nível filosófico, de forma a abrir a nossa mente para o mundo da reflexão, do raciocínio, do sentimento, da vontade, do planejamento, da decisão e até da ação bem definida.
O que acontece com o provérbio mencionado? O que ele “esconde” de tão importante para se tornar um parâmetro de vivência? De verdade mesmo, ele não esconde coisa alguma, senão apenas “revela” uma realidade natural, que faz parte do universo da vivência humana, ou seja: quanto maior sabedoria o homem alcançar, mais humilde ele se tornará. A humildade, portanto, é a qualidade daquele que reconhece a própria ignorância perante o conhecimento da realidade do Universo, ou seja, quanto mais ele sabe, mais ele toma consciência de que lhe falta ainda muito, mas muito mesmo, para aprender, isso em escala beirando o infinito. Já a arrogância é própria dos “sabidos” ignorantes, ou melhor, daqueles que ignoram a profundeza da própria falta de sabedoria e arrotam sapiência, espalhando aos quatro cantos a posse de diplomas de doutorado, licenciatura, Phd etc., para obter destaque perante os incautos e os submissos, posando assim como homens importantes. Um exemplo bem característico é a existência de parapsicólogos, cuja preocupação principal é demonstrar à humanidade que as manifestações do mundo espiritual não são nada mais do que resultantes de charlatanismo, pois eles defendem a inexistência do espírito etéreo e invisível aos olhos humanos. O engraçado é que esses doutores têm a capacidade de explicar, com detalhes, a sua teoria perneta sobre a vida terrena e, quando encontram pela frente alguém que os deixem dentro de uma “saia justa”, saem pela tangente, brandindo seus diplomas e, grotescamente, declarando-se grandes figuras do conhecimento científico paranormal, portanto estando eles muito acima de qualquer compreensão do pessoal mundano.
Quando um chefe qualquer precisa apelar para a declaração explícita de que “ele é o chefe”, por isso que os outros têm que se submeter às suas ordens, é sinal de que a sua autoridade está prestes a desmoronar, pela baixa capacidade de liderar grupos e pelo baixo nível de conhecimentos, numa demonstração cabal de falta de sabedoria e sobra de presunção.
O humilde não é aquele que se submete à arrogância alheia, mas sim, é aquele que se impõe silenciosamente pela seu conhecimento, inteligência e sabedoria, não tendo a necessidade de mostrar que é possuidor de qualquer formação acadêmica, e que tem a capacidade de recuar perante a ignorância dos “sabidos”, declarando-se, voluntariamente, como sendo incapaz ou então de estar despreparado para demonstrar até onde chega a profundidade do seu próprio conhecimento. “O gavião poderoso esconde as suas garras” é outro provérbio oriental que bem ilustra o que estamos dizendo. O verdadeiro mestre de artes marciais nunca procura criar situações polêmicas de violência, porque ele está seguro da sua capacidade de subjugar qualquer adversário “valentão”, daí não haver a necessidade de demonstrar sua superioridade inconteste, muitas vezes eximindo-se de entrar em quaisquer tipos de confrontos, seja pela discussão ou pelo uso da força física ou da técnica de combates.
A humildade é uma grande demonstração de força, já a arrogância é a melhor maneira de “ganhar no grito”, o que é difícil conseguir com argumentos não muito convincentes, por falta de sabedoria ou por medo de escorregar na própria ignorância. Quanto à submissão, temos por aqui a maior prova de fraqueza espiritual, reunida com hipocrisia e falta de respeito para com a própria individualidade. A individualidade de baixo nível reflete-se na personalidade submissa e bajuladora, o que se torna simplesmente desprezível e não confiável.