O EVANGELHO SEGUNDO TODO MUNDO

No principio Deus criou o universo, o mundo e a mim e para me fazer companhia, você. Viu? É simples! Acabou o mistério, perdeu a graça, parei de brincar de busca-busca pistas nas estrelas e você?

Para os grandes koans da vida, tenho apenas uma resposta: vão infernizar outra pessoa, eu quero viver.

Passamos cerca de 25 anos da nossa vida dormindo, outros 10 vendo televisão e outros 15 provavelmente mandando mensagens pelo Twitter. Quanto tempo resta? Com a gripe suína avançando e se continuarmos gastando tanto tempo filosofando sobre quem somos, de onde viemos e para onde foram os milhões dos atos secretos; provavelmente acabaremos indigestos arrotando o pouco tempo que nos resta com todo essa filosofia espiritualista ao invés de vivermos as grandes alegrias da vida. Aqui entre nós, esse negócio de busca espiritual sempre acaba em pizza da verdade universal nunca revelada. Até onde eu sei, ninguém nunca ganhou o prêmio Nobel por ter provado a equação "Deus-cria-homem-e-depois-brinca-de-esconde-esconde".

Chega dessas discussões infernais. Saiam dos computadores, fechem os livros, corram para os parques e fiquem agradecidos por sermos apenas uns homenzinhos, frutos de uma reação química num planeta de décima gategoria mantido quente por um sol de quinta grandeza.

Ahh!

Hum...

Ok, confesso: Não penso assim, pelo contrário!

Desculpem o desabafo, mas é que estou revoltado e por isso, talvez, esteja dizendo que ficar se indagando sobre Jesus e Maria Madalena é perda de tempo, pois a missa avança. Sim, a espiritualidade vale a pena e a crônica. Não há dúvidas, mas estou passando por minhas pedras no caminho e brincando um pouco de Pedro, negando até que sou preto. É aquela fase onde queremos apenas olhar para o mundo e esquecer os mistérios do céu, pois um pedido que fizemos não foi realizado e nos sentimos traídos pela espiritualidade; afinal, depois de tanto tempo de trabalho para o bem, onde estava Deus que não realizou aquela cura ou fez cair no nosso colo aquele trabalho tão desejado? Cadê aquele empurrãozinho espiritual, ainda mais em tempo de crise? Se tem colarinho branco vivendo bem com a grana do nosso bolso no Senado, será justo que nós, trabalhadores da espiritualidade, estejamos sempre na pindaíba?

Sim, burlei a regra e fiz o meu ato secreto também e ao invés de agradecer por estar acordado, fiquei pedindo uma intervenção, uma ajudinha; esquecendo que se devemos seguir a lei do carma, a lei da gravidade e até a lei do Serra e do Kassab; não podemos nos esquecer da lei da espiritualidade, que diz que o nosso conhecimento sempre será útil para os outros, nunca para nós mesmos ou para os nossos amados; pois afinal, se temos um poder em nossas mãos, e estar desperto para a espiritualidade é um poder descomunal; não é justo que tenhamos mais vantagem que os outros.

O mundo tem as suas dificuldades para todos: contas a pagar, violência, injustiça, desemprego, novela mexicana e todo o pacote de mazelas que faria duvidar até o Papa sobre a existência de uma causa divina. Porém, se toda vez que as coisas apertassem, o céu se abrisse e tivéssemos o que pedimos, seriamos um bando de preguiçosos; essa “gente especial” demais para trabalhar e superar os obstáculos do caminho por conta própria, como boa parte do mundo faz. Seríamos os espiritualistas invocados, gritando com o mundo: não mexam comigo! Vocês sabem com quem estão falando? Cuidado: sou o “Filho do Pai!"

Ora essa, somos todos filhos do mesmo Pai, né? Ou não é?

Se quisermos que o nosso time ganhe, que tal jogar bem ao invés de pedir a Deus que seja corintiano? Pensando nisso, lembrei que toda vez que vejo na televisão aquele monte de jogadores rezando o pai nosso depois do jogo ganho ou mesmo antes, fico pensando no time adversário. Será que eles são menos merecedores da vitória?

Para não chover no molhado, pois tenho certeza que você já entendeu o recado; só queria dizer que sabíamos que não teríamos lugar especial no estádio do Divino quando nos propusemos a jogar e agora não adianta reclamar e se irritar, dizendo por aí, que esse negócio de espiritualidade é conversa, só porque não lhe dá de mão beijada o que te interessa.

O evangelho da vida se escreve com as parábolas, lutas e lições vividas por todo mundo. O problema é que queremos sempre um tratamento especial, mas se tivermos um pouco de discernimento e maturidade, avançaremos nos tempos da "Kali Dúvida" e encontraremos Deus sorrindo, orgulhoso por termos finalmente entendido a piada.