Causos da Antônia - 1
Quando fui morar em Pirenópolis, contratei uma faxineira que morava mesmo na minha rua. E logo de início percebi que teríamos algumas dificuldades na comunicação, pois ela é uma pessoa nascida e criada na roça e, além de tudo, é analfabeta. Seu linguajar é bastante peculiar – freqüentemente torna-se incompreensível para mim e é lógico que ela deixa de entender boa parte do que eu falo –; no entanto, nós duas nos divertimos com estas diferenças.
Por exemplo, um dia ela me perguntou:
– É pra lavar as vasia?
– Lavar o que, Antônia?
– As va-si-a – ela falou num tom que usaria para explicar a uma criança.
E vendo que eu continuava sem entender, apontou para a pia cheia de louças sujas. Ah, eu pensei, as vasilhas!...
Então, com a cara mais cínica, respondi:
– É sim. Mas só as vasia que tiver vazia. As vasia cheia ocê num lava, não.
Ela riu. Ainda bem...