PELAS RUAS DO RIO
 
Taxi amarelo rodando à noite, da Glória para Copacabana, trânsito tranqüilo, motorista de confiança do ponto do bairro, e vamos nós. O motorista correto e calado. Relaxo no encosto do carro . Os olhos acompanham o tudo lá fora.
Como o Rio é bonito! Como também olhar com olhos de escrever palavras sentidas, e olhar de artista, ou seja, absorver as imagens, testemunhas dos homens que passam e as olham sem ligar. A Praça Paris é bonita, mas quase ninguém a vê mais, por ser tão pertencente à cidade. Nos anos setenta ela foi escavada e virou um enorme buraco, amontoando a terra vermelha para fora durante um bom tempo. Parecia e era uma ferida gritante no panorama do Centro e Glória. E a praça que fora fundo para belas fotografias estudantis gritava um AH! sufocado e era incerto que voltasse à vida um dia. Era de doer aquela cratera escancarada, fazendo marca nas almas dos amantes da cidade. Eram obras para instalar o metrô; e quem acreditava que chegava lá?
Mas chegou o metrô anos depois. E foi recoberta e reconstituída a praça. Por incrível que pareça. E voltou a ser linda; incrível o que a engenharia faz e quando as autoridades municipais permitem. E o metrô correu sob a cidade e muito bem até o Flamengo. E até a Central do Brasil e à Tijuca. Foi fantástico, mas não precisava dele quem tinha seu carro.
Assim como hoje nem quero celular, mal pude acreditar na primeira vez que entrei na Estação da Carioca, no Centro e tomei o metrô. Para todos era uso normal, cotidiano, mas eu me abismei e o choro emocionado veio à garganta. Difícil acreditar que o metrô era real. Assim é o Rio, ganha idade e como nós, parece ter um coração pulsante; é o amor pela cidade que nos acolhe.
O taxi vai rolando suave, bom é o motorista, e lá no alto, toda iluminada a Igrejinha da Glória, com a fachada toda iluminada contrastando com o fundo da noite de escuro azulado. Os olhos a acompanham pois ela passa amor e paz, de um encanto vago...