VIAGEM DO HOMEM À LUA
VIAGEM DO HOMEM À LUA
Maria Leandro, a quem chamávamos carinhosamente de COCA, era mesmo um presente do céu. Mulata educada, prestativa, excelente cozinheira e passadeira, amiga de todos, modesta, humilde, era uma completa dona de casa para todas nós que saíamos para trabalhar.
Viera da roça onde moravam ainda seus pais, toda a família analfabeta, mas de excelente formação moral e educação invejáveis. Era de uma agudeza de espírito e senso crítico incomuns, sendo considerada a nossa irmã preta muito querida. Conservava, no entanto, alguns costumes da roça que preservava, e nós respeitávamos.
Naquele dia especial, lançamento e partida da nave APOLO 11, eu não fora trabalhar. Comentara com ela o grande e inédito acontecimento que dentre em breve se iria realizar, e estava empolgada, emocionada, falando depressa, precisando comentar com alguém. Caminhava da copa para a cozinha, ia e vinha até que se iniciasse a contagem regressiva. Ela continuava indiferente na cozinha onde lavava pachorrentamente as panelas.
Eu queria falar, comentar, expandir a emoção reprimida, mas não tinha com quem fazê-lo.
- Corre, Coca, vem ver que beleza !!!...
SEVEN – SIX – FIVE – FOUR – THREE – ONE – bum !!!...
E lá se foi o foguete espalhando luminosidade por todos os lados, carregando os três astronautas, subindo, subindo, desaparecendo, apenas aquela manchinha lá no alto, sumindo...
- Que maravilha, Coca !... Lá se foram os homens no foguete!...Eles vão continuar em órbita e amanhã vamos vê-los descer na lua, enfrentando o desconhecido, fincando uma bandeira lá no chão da lua!... – falava eu com emoção, atropeladamente e quase engasgada...
Ela pôs as mãos na cintura, abanou a cabeça e naquele gesto de quem ainda duvida, foi logo dizendo:
- Cruz credo, Virge Maria... qui gente mais maluca esses tais que você falou!...Atravessar o Céu onde moram Deus e os Santos, fincar a bandeira lá na lua que é lugar de São Jorge com aquele cavalo lindo!... e se o Santo achar ruim com eles e soltar aquele dragão enorme, o que qui eles vão fazer? ( !!!!!!)
Foi como se me despejasse um balde de água fria no entusiasmo... Apesar de muito esperta, ela trazia enraizada dentro de si as crendices que aprendera na roça.
O jeito era mesmo aguardar o retorno dos heróis para saber como se arranjaram com o São Jorge lá na lua...
Extraído do meu livro “CANTATA EM TOM MAIOR”
(Muitos beijos para você, querida COCA, que hoje descansa aí pertinho da lua de São Jorge)