Fodeu-me

Quem poderia imaginar que novembro, ao invés de antevéspera antecipada dos folguedos vira-ano marcaria minha iniciação num famigerado Conselho de Sentença?

Bem que notei no soslaio olhar daquela funcionária pública de meia-idade, naquela sala quente pelo ardor da tarde, de um abafamento de repartição pública eleitoral, um quê de agora te como! Sublimação de um ato que se daria, a considerar minha vontade, apenas sendo ela a penúltima mulher da terra ou com três cervejas a mais. Ao invés de comer-me, fodeu-me! Meu nome foi parar na lista dos potenciais candidatos a membro dos Conselhos de Setença.

Intimação entregue, a choramigação feita ao Oficial de Justiça de nada vale-me. Tentei por outra via a liberação, argumentando minhas importantes atribuições profissionais. Obtive como resposta um olhar bovino de uma oxigenada funcionária de visual "sou gostosa, mas tem outro me comendo".

Tentei então o tipo doidinho - minutos antes da chegada de advogados e promotores ia ao banheiro, amarrotava a camisa, descabelava-me, transpirava.

Deu certo, em parte, visto que fui rejeitado três vezes. Mas, em uma fiquei.

No dia em que fiquei, julguei a morte da Carneirinha efetuada, supostamente, pelo Tangerina; quem delatou tudo foi o Piolho. O que há de comum nesta circunscrição entre os reinos animal e vegetal é a pobreza de todos os envolvidos. Ao promotor bastou achincalhar o Tangerina, pintá-lo como aquele que mais dia, menos dia, irá invadir sua casa (é, a tua, caro leitor) de arma em punho e roubar teu dinheiro, estuprar tuas mulheres, etc. Não precisou provar nada, bastou achincalhar o bicho, ops, vegetal e ....tome mais doze anos de prisão na cabeça. Tudo bem que o tal do Tangerina já fora condenado a outros dezesseis.....

Esqueçam os julgamentos americanos, aqueles que vemos na TV com provas, fotos, diagramas, especialistas, balística, testemunhas. Como assim?

Começa que o advogado do cabeça de pokan deve ter recebido o caso pouco antes do julgamento. A primeira conversa entre eles foi exatamente a 10 minutos antes do início do mesmo (palavras do advogado); aliás esse era o terceiro advogado do Tangerina, todos nomeados pelo poder público. Cada um seguiu uma estratégia de defesa diferente, desancando polidamente a estratégia de seu predecessor. Igual defesa de time de várzea - cheia de furos, com uns cabeças de bagre batendo cabeça.

Ninguém mostrou prova alguma quanto ás arma entregues eram , nem mostraram prova de balística de tiros, posições de disparo, nada que cabalmente provasse se o tal do Tangerina estava lá mesmo ou não. A cena do crime não foi, nem de longe, remontada. Só a irmã da Carneirinha testemunhou e óbvio desencou o Tangerina que serquer teve a dona Tangerina presente, ao menos para mitigar-le os sofrimentos por tanta esculhambação.

Bastaram as fotos da Carneirnha com uma dúzia de tiros espalhados pelo corpo, o sangue jorrando, a ficha criminal do Tangerina. Pronto, condenção.

A finada Carneirinha tinha esse nome pelos cabelos. A ficha criminal dela era maior que a do Tangerina, inclusive com várias acusações de homicídio e uns anos de cadeia.

Como é que a gente julga? Você opta pela especulação que lhe parece mais convincente - a do promotor ou a do advogado. Os fatos, as provas a verdade? Ora, deixe de ser tonto, estamos no Brasil....Duro vai ser retornar lá outras vezes; dizem que uma vez dentro só se sai pela morte ou se sentando no banco dos réus. Aquela cretina....fodeu-me!