Seu apelido era Maia

Embora morasse naquele casarão, seu modo de vida era muito simples. Que eu saiba, nunca comprou nada para a casa. Usou lençóis, cobertores, toalhas de mesa, louça, talheres e panelas deixados por vovó. Aliás, ela fez questão de guardar o que era importante para depois distribuir entre os sobrinhos. Quando eu via alguma peça bonita e lhe pedia que me deixasse, ela retrucava: eu não, você vai ficar desejando minha morte! Na primeira ocasião, aniversário ou Natal, eu ganhava o presente.

Seu nome era Marina, mas nós a chamávamos de Tia Maia. Não sei quem deu o apelido, foi sempre assim, até que a terceira geração chegou e ela passou a ser Vovó Maia. Foi bom, assim recuperamos a figura de vovó, há muito desaparecida. Ao nos mudamos para São Paulo, foi ela quem se tornou o nosso ponto de ligação com Taubaté, como que prendendo aqui as raízes da família.

Nunca deixou de ter notícias de ninguém, acompanhava a vida de todos, sempre presente em aniversários, batizados, casamentos e formaturas. Quem quisesse saber alguma novidade era só telefonar. Tia Maia sabia quem havia brigado com a namorada, quem tinha ido mal nas provas, quem passava o feriado em Ubatuba, Rio de Janeiro ou Paraty. Dava conta direitinho dos passos dos quatorze sobrinhos.

Quando alguém se encontrava fora do Brasil, ela ganhava de longe o título de maior correspondente. Recebia uma carta e respondia imediatamente. E ainda ligava pra todo mundo contando as peripécias do viajante.