CARO FERREIRA

Li no jornal Folha de São Paulo do domingo 19/07/2009 um artigo assinado pelo poeta Ferreira Goulart sobre a Reforma Psiquiátrica. Recomendo a leitura do mesmo mas, sucintamente e resistindo à tentação de fazer "bonecos de palha" de seus argumentos, ele em seu texto conta duas histórias - uma em que a proposta de criação de leitos psiquiátricos em hospital geral pareceria uma tentativa de dourar a pilúla para a doença mental e outra em que atribui à internação de longa duração a possibilidade de alguém ter se tornado um artista e não mais um mendigo dessas tantas ruas.

Quanto ao primeiro trecho, de fato, em nome da constante busca do políticamente correto muitas vezes se esquece algo que Deleuze e Guatarri, reformadores psiquiátricos, já há muito diziam - a loucura não se encaixa. Mas isto é diferente de dizer que não se possam fazer laços. A dramaticidade que adquirem alguns casos é pungente, não necessariamente bela, conflituosa e contraditória (quem quiser um belo exemplo veja o belo filme Estamira). Mas está claro que evitar o gueto, sempre que possível, é melhor. O que me leva ao segundo ponto.

É preciso estar desesperadamente cego para apagar o genocídio subjetivo promovido pela lógica manicomial de se tratar a loucura. Ferreira Goular cita justamente a excessão - Nise da Silveira em seu Pedro II; ademais a possibilidade dada ao caso por ele cita seria muito mais ampla se aquele personagem pudesse viver de sua arte nas ruas e não no gueto.