Andarilho literário

Não é pecado. Não é crime. Pelo menos que eu saiba. Esse negócio de entrar em uma livraria e começar a folhear os livros da prateleira e sem querer iniciar a leitura. Quando você vê, já está quase terminando de ler o primeiro capítulo, logo quer o segundo e assim vai.

- Com licença, o senhor deseja ajuda?

- Não, muito obrigado, estou apenas olhando.

- É que já faz mais de uma hora que o senhor está olhando esse livro.

- Estou vendo se vale a pena comprá-lo. Esse capítulo é genial.

Quem nunca fez isso? Mesma coisa de ir numa revistaria e folheá-las, e quando se depara com uma matéria, como aquelas de fofoca que não tem como não parar e ler ali mesmo. De tanto que se faz, acaba se tornando um vício.

- Perdão senhor. É que não permitimos ler os livros sem comprá-los. Com todo o respeito, isso não é uma bibliote...

- Shiiiii. Ele vai descobrir quem matou a mulher dele.

Tem vezes que demoram semanas para terminar o livro. Outras, em alguns dias já vão. É só não marcar bobeira e ficar sempre na mesma livraria. Começa nessa, depois vai na outra. Passa num sebo, lê umas páginas. É como a vida de um andarilho, um andarilho literário.

- Senhor, isso vai me dar complicações. O livro custa R$ 39,90.

- NÃO ACREDITO!

- Senhor, sei que parece caro mas...

- Era ele o tempo todo. Ele! Que óbvio isso. Pensei que fosse a mulher dele, mas como é possível. Não gostei. Como o autor pode fazer isso com ele. De quem é o livro? Antonio João Castro? Nunca ouvi falar. Que obra mais ruim. Passar bem moça.

É uma alternativa de viajar, sem gastar nada. Quem nunca fez isso? Como disse, é assim a vida de um andarilho.

- Com licença. Tem algum livro do Antonio João Castro?

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 12/08/2009
Reeditado em 12/08/2009
Código do texto: T1750166
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