O rastro da Lua

Um dia Mamãe chegou com uma novidade. Queria um terreno na Praia Vermelha, a Vermelhinha do Sul, dos arquitetos. Papai reclamou, por fim cedeu. Mil projetos,casa assim, casa assado. Não podia ter muros, cerca viva era o indicado. Quantos quartos pra caber todo mundo?...

Tudo pronto, passamos a aproveitar. Do terraço via-se uma nesga do mar. Deitada na rede, eu ouvia o balanço das ondas e o rumor da folhagem. O chão de tijolos lembrava fazenda na casa moderna. O mais importante é que ela ficava quase na areia. Através da alameda arborizada, só uns passos pra se chegar até lá.

A praia, de faixa estreita, tem águas aparentemente sossegadas. Mas é de tombo, afunda logo e as ondas batem forte. Uma delícia pra nadar e boiar. Antes de chegar ao canto da direita, um riozinho desemboca, e a areia forma barrancos onde as crianças gostam de pular e brincar. Ali fazem barragens, acompanham brinquedinhos na correnteza e gritam sem parar.

Nossas cadeirinhas e esteiras lá ficavam o dia inteiro, no mesmo lugar. Andávamos de uma ponta à outra, só encontrando amigos e conhecidos pra conversar. Pouca gente, e nada de barraquinhas pra bebericar.

Quantas vezes, enquanto todos dormiam, fui lá na praia ver o dia clarear. Sentada na areia, eu curtia a paisagem. De tão linda, parecia magia, mas era verdade, não posso negar.

Em noites de lua cheia, ninguém queria perder o cenário. Íamos todos, na escuridão, ver a aquela imensa bola vermelha surgir da água. Um presente do Céu! E enquanto a lua subia, ficávamos ali a sonhar...

Que vontade eu tinha de caminhar por seu rastro dourado, deixado no mar!