Bordas do Cafundó
Vim correndo pelos pastos vazios, até onde dos olhos o verde se perdeu e água desapareceu. Pra onde? Parece que estive aqui ontem e tudo eram campos de girassol, rio e riacho, agora é deserto sem par.
Sobe um velho pela serra.
- Moça nova, de onde vem tão depressa?
- Vim da cidade. Há anos não andava por esse canto do mundo. Não reconheço mais nada.
-É que o mundo muda em todo lado, em todo canto. O tal do aquecimento dos globo passou por aqui, e tudo esta mudado.
- E a parte alta perto do rio? Pra que lado é?
- É só seguir a cerca até acabar, lá encontrará o mar. É mar agora o rio.
Subi pelo caminho torto deserto ao lado da cerca velha, onde antes era plantação. Nada além de pó e areia me enchem a visão. Eternizei uma imagem de um tempo fértil, de uma terra encantada, agora tudo se resume a esse nada.
Costumava pular da pedra mais alta pra dentro do rio. Agora há um mar de sal, ilhado por um deserto sem fim. Sento-me vestida de luto diante dessa paisagem de fim de tudo .Meu paraíso de infância, cheio de águas de alegria agora é bordas do cafundó de lugar nenhum. Como diz a Revelação sagrada “os tempos podem e as estrelas caírem...”, torres de marfim em meio ao mar surgir. Mas minha lembrança estará eternamente aqui, sentada no meio do nada, de luto pelo mundo que perdi.