A morte sucumbe...
A morte mora defronte. Todo dia, quando abro a porta, lá ela está, do outro lado da rua a fingir que olha coisa nenhuma. Cara amarrada, malicenta, óculos de míope e uns olhos arregalados. Lança a cabeça langorosa para cima, para baixo, para os lados e para mim. É que o tempo roubou-lhe a visão periférica. Já não pode virar a cara e me escrutinar a alma. Senão, ainda hoje me espiaria de través.
Ouvi dizer que a morte está doente. É provável que a morte morra... Anda muito debilitada. Mal acorre um e outro passo, um movimento envelhecido, e acaba por acomodar-se; dar-me às costas e amoita-se.
Mas, vê-me! Vê-me como um bicho se camufla a que aproxime-se-lhe a presa a ponto do bote certeiro!
Tenho mais irritação à morte do que medo. Àquele jeito tão seu de me observar, é que me faz ferver o sangue...