Para cada ser, uma tribo
Atitude. É essa a palavra do momento. Está estampada nos passos, nos rostos, nos movimentos urbanos andarilhos por aí: Shopping, praças de convivências, espaços de multidão, bares, boates, ocasiões criadas pelo acaso, ou será destino?
Difícil de entender, não? Porque todo esse caos vivido por homens e mulheres bombardeados de tantas informações desencontradas, veiculadas pelos meios de comunicação, deixa a deriva aqueles que se acham centrados e não se prepararam para a chegada do novo, do tempo contemporâreo.
Rostos maquiados, corpos tatuados e quantos acessórios, apetrechos são usados em plena luz do dia. Cada um tentando demarcar o seu espaço com a sua marca própria. Uns mais ousados e outros criando moda, modulando-se as exigências da ocasião. Os que chegam e são aceitos, os testados que esquecem quem são, o que pensa, como age e assumem papéis que desempenham mal, atuam mal, mas são tribais, comungam com aquilo que nem entendem.
A contemporaneidade torna o ser prático e essa praticidade é desprovida de embasamento. Não é necessário justificar os fins, o importante são os meios, atuarem num cenário sem planejamento onde a ação nasce do improviso e que a condição seja o elo de ligação entre aqueles que protagonizam e agonizam no mesmo espaço. O resultado é o que menos espera porque a pressa não cobra saldo, inventa sempre uma nova saída e o que é dito fica solto ao vento.
Tenta-se com isso a instalação de novos conceitos baseados sabe-se em que, o que importa é sentir-se vivo, atuante, mesmo que numa próxima madrugada, o vento sopre em direção contrária e as montanhas edificadas desmoronem e tudo é tão normal, encarado sem dor. Numa outra esquina, um outro grupo e a identidade que não tinha agora assume uma outra fotografia, em cores, em formato, em planos.
À luz da ocasião, a palavra é atitude.
Tenha uma atitude, seja atitude, atue.
Presente na linguagem inventada, nas palavras trucadas, neológicas. Os códigos inventados, usados nos grupos fechados e depois socializados. A comunicação expressiva, a poesia brotando onde não se imaginava, gestada nos pircing, nos cortes de cabelo, nas gírias, em formas sistêmicas, elos e elos selados como fuga de uma realidade construída de significantes e significados. A ação desenvolvida em um enredo conflitivo. E ser diferente nesse mundo é normal ou anormal?
Não importa!!!
Neste mundo o importante é ser e não ser, viver em constante contradição entre ser e essência. Duelar no mesmo tatami como se estivesse frente ao espelho, ser espelho e se ver refletido no seu próprio olho. O ser ego-cêntrico que conduz a vida na altura do umbido e a cada tropeço uma nova unha postiça e que os calos sejam as marcas dos pés andarilhos que estão espalhados por aí...
E essa atitude é tão jovial que tem direito ao erro, mesmo quando se sinaliza a idade dos novos adolescentes de plantão. Morar na casa dos pais, dormir até tarde, não assumir responsabilidade, curtir a vida com surf, noitadas e baladas. Ter filhos sem planejamento e tornar cada vez mais caos as políticas públicas de primeiras necessidades.
Atitude: "Sou feliz e o resto que se exploda", a máxima do individualismo, o ser que se transforma em ilha e acha que os outros são os outros... Caretas são todos aqueles que acompanharam as mudanças dos tempos, teorizaram, sofreram e fizeram história. Não cabem mais, os espaços se tornaram pequenos, escassos.
E o que fazer diante de tamanho de caso?
Caminhar até em casa, não ligar a teve no noticiário, afouxar os cadarços dos sapatos e deitar no sofá. Assistir pela janela o espetáculo da luz que aos poucos vai surgindo no alto, perpertuar a imagem. Esquecer que o dia foi doloroso, que o emprego sorveu todas suas forças e fazer um esforço grande. Tomar um banho frio, recompor as forças e assumir o papel do outro. Esconder a careca em peruca cabeluda, usar luvas e mesmo fazendo um calor infernal, usar o básico, as ferramentas e sem pena de si mesmo, assumir a noite, as esqunas, os becos. Mudar o nome, perder a identidade e depois da porta da boate que te separa do mundo, assumir um mundo que cobra de ti uma atitude.
Tenha atitude, seja atitude, é a ordem.