O QUE EU ESPERO DESTA VIDA, AO REVÉS DOS SONHOS?
Arranco de dentro de minhas entranhas, a verdade nua e crua. O que vejo? Nada de concreto que valha a pena ser lembrado e guardado. Num repente, percebo que entesourei esperanças frágeis, pedaços de ilusão, rios de mágoas que me custaram alguns fios de cabelos brancos, algumas rugas a mais na face e um sorriso perdido...
Como é cruel o despertar para a realidade, sem antes ter-me dado conta de que o verdadeiro sentido da felicidade estava completamente equivocado! Como vou viver depois de ter-me jogado, de cabeça, em um sonho, uma quimera, que nada acrescentou a minha insossa vida, a minha inútil existência? Como pode um coração despedaçado, continuar sobrevivendo depois de tantos solavancos sofridos ao revés do amor e da paixão tão esperada?
Pergunto-me se serei, efetivamente, a mulher prendada, inteligente, que cria e recria versos. Ledo engano! Tudo não passou, enfim, de um equívoco, um plano mal arquitetado, por u’a mão sem nenhum talento, que não seja o de copiar as linhas de um desenho mal feito.
Descubro-me, antes de tudo, a personagem de um enredo vazio de uma história mal contada, inacabada, pessimamente interpretada, por atores medíocres e sem alma! Encontro, dentro de um peito maculado pela tristeza, um coração inerte, maltratado por enganos. E, essa melancolia, inerente a minha alma, espalha-se pelos quatro cantos, por onde eu teime em passar - à procura do nada... – em busca de mim, menos que nada!
Sinto um misto de angústia e raiva, medo e fragilidade, ao descobrir que fui enganada, vilipendiada, pela ilusão de que poderia ser alguém muito melhor do que sou... De que poderia dar aos outros, muito antes de pensar em mim mesma, algo de útil e belo. Sonhos inúteis e dispersos!
A poesia! Ah! A poesia que pensei existir em mim, nada mais é do que um sentimento frágil, obscuro e sem sentido! Inexistente e sem nenhum fundamento, que não seja o de agradar a mim mesma, por vaidade, orgulho ou egoísmo... Não sei! A poesia foi outra ilusão que acalentei, durante anos, imaginando que a pudesse escrever – como os poetas.
E, de equívocos e tropeços – em meus próprios erros e abstrações – vou descortinando, diante de meus olhos, refletidos no espelho de minh’alma, a realidade do que sou – NADA! Nada do que pensei e sonhei ser, um dia!
Apenas consigo vislumbrar, por entre a névoa intransponível, formada ao meu redor, o naufragar de uma existência.
Tudo se desfez, tão rapidamente quanto havia se formado em minha mente, alimentada por minha inconseqüência e incapacidade para perceber o que realmente acontecia. A vã filosofia, que eu teimava em seguir, debulhou-se diante de mim, como uma tempestade que passa e destrói tudo a sua frente.
E eu pensei que poderia deter o tempo para, ao menos por uma fração de segundo, ele pudesse conspirar a meu favor. Sorte? Ela, simplesmente inexiste. O que há é a vontade de se ir em frente, de lutar por suas conquistas, sem desistir diante dos primeiros obstáculos.
E, agora - pés descalços, alma nua e coração despedaçado - caminho a passos lentos e inseguros em busca do inefável. Quem sabe, descansar à sombra de uma imensa mirtácea, sentindo o perfume de suas flores, e esperar pelo que possa vir ao meu encontro. Talvez, o fim!
Pressinto que seja este o início de um final sem glórias, sem aplausos, sem créditos! Nem eu mesma, credito-me coisa alguma! A desesperança e a incerteza serão minhas parceiras constantes, até o final.
Um “THE END” decepcionante e sem surpresas.