Seu Dino - Crônica dos Pais
Os meninos eram cruéis, gritavam na rua: “o Neguinho é filho do cachorro dos Flinstones!”
Aguentei a brincadeira até o dia em que aprendi a mentir e disse aos meninos que o meu pai era um italiano mafioso. Eu tinha assistido a um filme na sessão da tarde, onde aparecia uma família italiana mafiosa e achei, não me perguntem porque, conveniente, dizer para todos que meu pai era da máfia.
- Se eu fosse vocês, não mexeria comigo. – dizia com um tom de voz pomposo – Sabe o Seu Dino, meu pai é parente dos mafiosos da Itália. De onde vocês acham que veio o nome Dino? - Foi a primeira vez que menti, mas os moleques nunca mais mexeram comigo. Talvez pelo meu tom de voz ou porque o que eu dizia era tão absurdo que parecia ser verdadeiro.
A verdade é que nunca fiquei sabendo a origem do nome do meu pai, eu sei pelos meus documentos, que Dino não era diminutivo de Bernardino ou coisa parecida, mas meu velho era um sujeito mesmo, diferenciado, não só pelo nome, mas porque tudo para ele era motivo de festa. Tudo era ocasião para churrasco: nascimento, batizado, aniversário, feriado, qualquer coisa que lhe desse motivo, ele já convidava os amigos para a confraternização. O que eu não sabia era que a bebida que ele tomava e pagava aos conhecidos o tiraria de nós.
Como todas as pessoas, meu pai não era perfeito, e não sabia o que era beber com moderação e ele se foi antes mesmo que eu pudesse compreender o significado do seu nome, ao menos, eu consegui viver com ele o bastante para sentir a sua falta até os dias de hoje.