UM PEQUENO IDEAL
Fazem algumas décadas que conheci um menino muito diferente. O encontro foi simples e belo, justamente como deveria ser. No olhar do garoto, pude observar a paixão de todos os poetas, o folego da criação e uma experiência que derramava milhares de sentimentos; decidi que deveria prestar mais atenção nesta criança. Constatei que as palavras eram pequenas demais para expressar a poesia contida nos versos daquele rapazinho – então choramos juntos inúmeras vezes, pois o enigma dos sentimentos abalava o cotidiano de expressões artísticas. Faltava algo que falasse alto, algumas asas para fazerem voar e lirismo para colorir melodias... Faltava harmonia... Faltava música!
Acompanhei o poetinha na entrega dos versos para sua primeira paixão. Descobrimos então que, algumas pessoas não estão preparadas para a poesia ou, simplesmente não estão prontas para amar e fazer o próximo sorrir. Naquela tarde cinza, desvendávamos os motivos de todas as guerras travadas entre os povos, de todos os assassinatos e também dos suicídios. Na verdade, uma parte nossa morreu durante a noite, pois o garoto percebia que estava sozinho enquanto, o restante da humanidade – os amigos, garotas, grandes líderes, etc. – permanecia com a vontade gigantesca de conquistar ambições aproveitando-se da inocência alheia.
Mas nem tudo estava perdido! O menino pôde confiar nas estrelas e sentiu que somente bons artistas poderiam comunicar-se com a beleza universal da lua. Algumas dúvidas pairavam na cuca do jovenzinho: – Será que sou artista? Isso que estou fazendo é arte? Estou louco? Posso estar doente ou estou somente apaixonado?
É que os artistas aspiram grandezas vespertinas, transformam pequenas coisas em alegrias, condenam problemas insignificantes e necessitam de paradoxos, de inconstâncias, para então criarem verdadeiras obras-primas. Mas com tantos pensamentos, com tanta paixão e poesia, o jovem foi crescendo, desfrutando naturalmente da evolução do tempo. Como foi triste o despertar do poeta! Para encontrar o amadurecimento da poesia, o artista precisa passar por situações amargas, precisa reconhecer a crueldade de algumas pessoas e finalmente, entender que nem todas as mentes estão preparadas para o amor e a arte.
Como não poderia deixar de ser, o jovem encontrou grandes problemas financeiros – é complicado sobreviver da arte quando não se nasce em berço de ouro... Por isso é preciso lutar! Pena que o papel verde arruína civilizações, separa famílias e amizades. O rapaz então foi vivendo, cometendo erros e acertos. Fez muitas amizades verdadeiras, deu a face para muita gente que não merecia e decepcionou muitas pessoas que não deveriam sofrer... Talvez a imperfeição seja o grande barato da vida. Os anos vão passando e não percebemos que estamos correndo pelos mesmos motivos, na mesma batalha. No final das contas, sempre vamos descobrir que o tempo passa rápido e não devemos perder a oportunidade de sorrir, de amar, de sentir, de fazer amigos, conquistar amores...
Nosso personagem que virou poeta, aprendeu com as primaveras, a disparidade dos seres humanos – algumas pessoas convivem conosco durante anos e não transmitem nenhum sentimento; no entanto, por vezes basta um simples olhar, um sorriso apaixonado, para então ganharmos momentos verdadeiramente felizes. Estamos atuando no mesmo espetáculo e precisamos contracenar em perfeita harmonia. Como dizia Chaplin: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios”. Todo ser humano tem capacidade de ser um grande artista! Escolhi enfrentar o garoto, personagem chave da crônica. Através do espelho, fitei o olhar deste jovem que tanto equilibrou-se, que já sorriu, amou, sofreu e agora encontra-se vivo, arteiro e de pé. O certo, caros leitores, é que no cristalino do globo ocular (com toda aquela negritude, escuridão e noite), os homens amarelos, pretos, brancos e vermelhos, são iguais e precisam urgentemente de carinho e amor. Espero que saibamos refletir a beleza dos sonhos neste espelho e, que a busca por evolução e igualdade não seja apenas algo quimérico. Portanto, vivamos a poesia!