UM PREÇO A PAGAR
Todas as estradas da vida tem seu preço, por onde quer que andemos. Cada olhar ou sorriso, os simples gestos de emoção, o ir e vir, exibem bem delineados os valores a serem pagos tão-logo enveredemos por eles. Porque tudo na existência dos seres, humanos ou não, exige sua reciprocidade. Viver é pagar tributos, é dar com a mão direita e receber com a esquerda, algo como toma lá, dá cá. E não necessariamente o valor a ser considerado nesse diapasão é medido por sua densidade física
nem pelo significado monetário que possa expressar. Pode ser algo deveras mais profundo, e inúmeras vezes é realmente, a ponto de provocar sequelas permanentes, angústias recorrentes, medos, suspiros. Em diversos momentos e circunstâncias, torna-se quase impossível calcular quanto pagamos no âmbito psicológico, moral e emocional.
O próprio amor, até ele mesmo, sim, com suas nuances e mistérios, tem seu preço. Alto, em diversas ocasiões. O materno, por exemplo, e por lógica também o paterno, é obtido depois de um demorado e muitas vezes doloroso caminho percorrido, e ao longo do seu trajeto como sai caro alcançá-lo e usufruí-lo como certamente gostaríamos. O namoro, as brigas, as lágrimas, as discussões, o casamento, as cobranças mútuas do casal, a gravidez com suas muitas e nada agradáveis consequencias para a mulher, os nove meses de espera, as dores do parto em qualquer situação. Há um insofismável resgate por tudo isso, impossível dissociar-se de seus meandros. O preço a ser pago pelo pai, guardadas as devidas proporções, não fica muito atrás, embora em campos bem diversos do sentido pela mãe. Entender a esposa, cuidar dela com o merecido carinho e a imprescindível atenção, ficar atento a possíveis problemas decorrentes do processo de crescimento do filho no ventre dela, preparar-se em todos os sentidos para receber a nova vida com seu universo transbordando de vontades, seu gênio diferente, a personalidade individual tão inerente a cada ser.
Um feto no ventre da mãe também em pouco pagará, por sua vez, um alto valor por ter sido gerado, antes mesmo de nascer. Por usufruir como verdadeiro corpo estranho invasor um lugar especial no confortável espaço cedido pela natureza materna está sujeito às transformações hormonais e aos humores dela. Qualquer impacto físico ou emocional sofrido pela mãe será, obviamente, capaz de alterar, na mesma proporção, as batidas do seu coração e, mesmo, deixar marcas indeléveis ao longo da vida. Sem esquecer que, completado o ciclo normal de gestação, ele se tornará semelhante a um fardo intruso no organismo feminino acolhedor e precisará ser expulso o mais rápido possível. Para o seu bem e dela. Como se vê, tudo traz consequencias, como na regra de causa e efeito.
Até mesmo a liberdade tem seu alto preço, como tudo na existência humana. Assim, é concreto que todos pagamos, de uma forma ou de outra, por cada instante vivido, sejam quais forem as razões estabelecidas pelo destino. E ninguém, absolutamente ninguém, conseguirá ficar isento desse compromisso traçado pelo próprio ato de viver.