COM O MUNDO NAS MÃOS

COM O MUNDO NAS MÃOS**

Osman Matos

**Texto escrito em o2 de agosto de 1990 e publicado em 1997 - na coletânea "Crepúsculo na Filipéia" - Seleção I Concurso de Contos e Crônicas -João Pessoa PB:1997 IMPRELL/CAAP/O Sebo Cultural.

Não só para rever a localização dos países que levam as manchetes dos jornais e da televisão nesse 2 de agosto de 1990 numa crise histórica, e levado também pela curiosidade de recordar a geografia dos tempos escolares, procurei o meu globo terrestre, o pus sobre a minha escrivaninha, e antes de começar a especulá-lo, retirei-lhe a poeira com cuidado e desejei ser fácil, assim, despoluir a natureza.

Estava ali o mundo a meu toque. A gente se sente poderoso olhando o globo. Dirigi-me logo aos países do Oriente Médio, mais precisamente aos envolvidos na crise do Golfo Pérsico e os vi com olhos de bomba, num momento em que o mundo está atento à contagem regressiva, prazo para Saddam Hussein sair do Kuwait cronometrado por Bush. Ninguém acreditava ver uma guerra televisada ao vivo, pois esperava-se que, findo o prazo, Saddam recuaria!

Senti o mundo frágil como o Globo em minhas mãos. E levado por um sentimento protetor vindo de longe, de lá dos confins dos meus extintos, me despi de julgamentos e me senti como as águas. Não como as dos oceanos que via ali, mas como as águas das fontes que não aparecem nos mapas, mas que existem e vêm de dentro, das infiltrações, dos minadores, e chegam pura. E fui (m)olhando o mundo por horas e horas, talvez com a sensação de estar limpando a sujeira da guerra e acariciando-lhe a paz que eu pretendia. Senti-me uma criança, pois só elas sentem esses desejos impossíveis, mas reais.

E entre paralelos e meridianos, percorri todos os países; do Afeganistão ao Zimbábue; do Pólo Norte ao Pólo Sul; do Brasil a Papua Nova Guiné e não ao Japão como dizem; o outro lado dele é exatamente a Dorsal da Atlântida Central do Oceano Atlântico. Penetrei no Brasil, na Paraíba, nos pontinhos da Paraíba, cidades que conheço. Vi a cidade de João Pessoa e imaginei seus bairros, suas ruas, suas casas, os cômodos das casas, as pessoas... O globo ficou gigante, infinito.

Benzi todos os santos; até que são poucos: San Marino, Santa Lúcia, São Cristóvão e Neves, São Tomé e Príncipe e São Vicente e Granadinas. E o que não tem nome de santo, mas é: o Vaticano.

Como pessoas em nossa sociedade, há os países pobres, os ricos, os famosos, os esquecidos, os de alto nível, os de baixo nível, os fracos, os fortes, os briguentos, os de paz, os trágicos por natureza, os de sorte.

Barbados e Gabão são engraçados; Formosa, formosa. Togo e Tonga, juntos, se parecem Tico e Teco, mas estão distantes. o primeiro é um país africano, limitado a norte por Burkina Faso, a leste por Benin, a sul pelo Golfo da Guiné e a oeste por Gana. Capital: Lomé; o outro, é um estado da Polinésia que ocupa as ilhas do mesmo nome, também conhecidas como Ilhas Amigáveis, um arquipélago de 169 ilhas no sudoeste do oceano pacífico.

Outro país com a letra “B” além do nosso Brasil? Barein, Bangladesh, Belize, Benin, Birmânia, Botsuana, Brunei, Burkina, Burundi, Butão… Mas há mais desconhecidos: Djibuti, Dominica, Gâmbia, Gana, Ilhas Salomão, Islândia, Kiribati, Laos, Lesoto, Quênia, Ruanda, Tuvalu, Vanuatu...

O globo me fez um turista sem sair do lugar. Era eu como na atmosfera, conhecendo os países por fora. À primeira vista. De Longe. Bahamas? Li rápido e pensei tratar-se de propaganda da loirinha gelada número um. Mas os Bahamas são um país das Caraíbas, situado entre o oceano Atlântico, a nordeste, e o mar das Caraíbas, a sudoeste. E os Guinés? Há o próprio, o Equatorial e o Bissau. Tem até Guiné no fim: o Papua Nova Guiné. São muitos, né? Por aqui, Guiné além de planta, erva e capim, é galinha d’angola que vive repetindo: “Tô fraco, tô fraco, tô fraco...” Mas, se for compará-los aos países do grupo dos sete.. E tem aqueles países complicados de se ler: Liechtenstein e Seyshelles. O primeiro é um minúsculo principado, um microestado, localizado no centro da Europa e o segundo, são um estado insular localizado no Oceano Índico ocidental, constituído por vários arquipélagos.

Vi cada país como via uma pessoa. E gostaria de andar por eles, conhecer, ver, sentir, penetrar em cada cultura, religião, costumes, línguas e tradições... Seria estar na intimidade deles e amá-los como amamos o próximo.

Percebi que a Áustria e o Níger, geograficamente, se parecem com uma panela amassada com cabo. Mas o verde, o melhor, o Cabo Verde, é um ponto preto no azul do oceano atlântico, lusófono, na costa Ocidental africana. O camarões se parece com uma foca – ambos bons de bola - já Camboja, Uruguai e Polônia, não se parecem com nada.

Irônica e literalmente, há um que não dá cana: o Canadá – haja vista ser o maior produtor de grãos do mundo, todo furado por golfos, bacias, estreitos e lagos.

Tive que “Catar” esse país com esse nome no globo. Fica na costa oeste do Golfo Pérsico, quase invisível, mas nem tanto quanto Vaticano e Mônaco que só vi os nomes! As Coréias do Norte e a do Sul, são como uma orelha da China, quase despencando nas ilhas do Japão, que é o milagre do mundo! A Finlândia, está mesmo lá, no “fim” da Europa. Parece com o Piauí. Lembrei-me do Brasil segundo João Paulo II, “um continente, quase...” , que se parece com a Bahia, aliás, a Bahia é que é a cara do Pai!

Fui girando o mundo entendendo seu eixo imaginário, face ao suporte de meu globo. E que Milagre é esse, meu Deus, da Terra girar em alta velocidade sem nada lhe segurando, fazendo a história do dia e da noite?

Cheguei à Noruega: uma lagarta subindo o topo da Europa, querendo alcançar a Ásia. Um clipes: o México; Um gancho do capitão do mesmo nome: o Panamá. Fui lá na Tailândia e vejam só! Ela está coçando a Malásia! E o país do cenário da copa de 90 é uma bota chutando uma lata, a Ilha Sicília: acho que a Itália deveria ficar no Chile que mais parece um macarrão.

Se há um cordão umbilical ligando as duas Américas, quem será a mãe? a do Norte ou a do Sul? A URSS é vizinha dos EUA. Pode? Num mapa mundi de folha corrida parecem dois extremos.

Os últimos países e só lá ficam na África: Zâmbia, Zaire, e Zimbábue. Mas não é lá o fim do mundo. Onde é o fim do mundo? Fim do mundo é quando há guerra. Pelo menos será que o início do mundo é em Greenwich, meridiano zero grau? E o jardim do Éden? É possível localizarmos o provável local do Jardim do Éden? Dizem que sim. - Existiam quatro rios, e um deles saía de dentro do Jardim e se espalhava e se convertia em quatro cabeceiras. Os nomes destes rios eram: Pison, Gion, Tigre e o Eufrates. Aí já estou na Mesopotâmia, e hoje, uma boa parte da área fica no território do Iraque.

Girei o globo para localizar os países que cheiram à pólvora: Afeganistão, Alemanha, Camboja, EUA, Japão, Singapura, (sim, apuros?), Coréia do Norte, Coréia do Sul, Guatemala, Granada, (nem tanto, mas talvez por ser granada), Haiti (ai de ti!), Irã - (atualização 2009: desAhmadinejad! ) - Iraque, Israel, Líbano, Paquistão, Vietnã... Êpa! Agora já estou no Pacífico... Um lado do mundo só de mar e ilhas, tantas, como estrelas no céu: Micronésia , Milanésia e Polinésia... O mundo deveria estar assim como o Pacífico, pacífico...

Parei de ver o mundo com olhos de criança. É que a TV ligada que eu nem assistia, noticiou agora, , o bombardeio dos aliados da ONU aos territórios Iraquianos e kuaitianos...

- Diabos!! E eu aqui parado com o mundo nas mãos e sem poder fazer nada...