Eu, a vítima
Eu, a vítima
Mª Gomes de Almeida
“Diga-me com quem andas que te direis quem tu és!”
Nunca uma frase soou tão bem.
Era fim de semana e após uma exaustiva rotina de trabalho, aceitei o convite de um amigo para uma pescaria.
Coisa melhor para desestressar não podia haver.
La fomos nós à pescaria! Conosco foi outra pessoa que não conhecia, amiga do meu amigo.
Meses se passaram e no meio de uma viagem de negócios recebi o telefonema da minha secretaria que a polícia me procurava. Incrédulo pois minha vida é muito transparente foi à delegacia da cidade em que estava e tamanha foi a minha surpresa. As duas pessoas que estavam comigo naquela pescaria de fim de semana estavam presas e sendo espancadas sem o menor respeito aos direitos humanos. Ambas acusadas de roubo. E eu que um dia andara com eles estava sendo procurado. A acusação que pesava sobre mim: cumplicidade.
O produto do roubo era um transformador de energia de uma fazenda de propriedade de um médico da região, o dito cujo médico oferecera à polícia oito mil reais caso ela descobrisse quem o tinha possuído indevidamente.
E certamente, eles queriam essa grana a qualquer custo, e para tal não mediariam esforços para ter-la em suas mãos.
Segundo as más línguas aquela pessoa da pescaria que eu não conhecia mas que foi conosco, tinha o hábito de apossar-se do que é alheio e como eu um dia fui pescar com ele, passei a ser suspeito também.
Até eu provar que não tinha nada com a história, lá se foram honorários de advogados e propina aos policiais que descaradamente a pediram. Mesmo eu estando inocente na história e a minha situação ainda foi melhor do que a dos dois que foram pegos. Foram muitas pancadas, muitas humilhações.
Embora sobre as humilhações eu tenha tido que escutar algumas. Aquelas do tipo:
“_ Aqui você conta essa história, queria vê-lo contar lá!” Se referindo à delegacia da minha cidade.
E ainda segundo o advogado que me acompanhou, eles afirmaram que eu seria a mina deles, mas que aguardasse. Uma “casinha” seria preparada para mim.
Casinha na gíria policial seria um fragrante...
Estive por uns dias cabisbaixo, mas entendi que sou melhor que eles. Continuo na minha cidade! No mesmo trabalho!
Orgulho-me em ser honesto.
Sou o mesmo de antes. O mesmo pai, o mesmo marido, o mesmo companheiro, o mesmo amigo.
Mas pescar...