O JOGO DAS ESPERAS

E por que não deverias dar o número do telefone pessoal? Estas coisas de telecomunicações existem para os bichos ou para os homens? Não se destinam, fundamentalmente, ao cultivo da plantinha Amizade? Mas, sossega! Eu só utilizarei o contato para te avisar quando estiver ao alcance físico, zanzando no seio do colo da mãe-terra – o berço natalino da infância. Se bem que não me parece que devesse ser assim. Deixar que a voz cumprisse o seu papel de minimizadora das ausências poderia contribuir para a perda dos temores acumulados. Lembro que estes não se devem amontoar sobre o objeto afetivo. Quebra o encanto e se joga sobre o forasteiro indevidas esperanças. A felicidade é pessoal, o mistério do outro é apenas um dos vetores que podem conduzir a ela. Porém não pode ser objeto de possessão. Nunca se massacra o outro à busca da felicidade. Isto transpassa os medos e os remos da incerteza para o incauto que chega com a seiva da convivência sem estar à mostra, porque ainda não revelada. Este alumbramento nem sempre se dá. Há pesos a levantar que são pessoais. E as feridas não devem ficar à mostra. Elas enfeiam o clima das esperas. Ah! Acabo de me lembrar do principezinho de Antoine de Saint Exupéry: – Se você diz que vem às quatro, desde as três eu sou feliz... Bem sei que a sofreguidão dos desejos acalenta-se nas esperanças. Deixe-se que ela seja flor da plantinha tímida à busca do sol. Esta linguagem amena, doce, diferente da do lugar comum da vida, tem a seiva de que falo. Nasce do fruto Amizade esmagado na boca. Os poetas são verdadeiramente uns medrosos. Dão nomes diversos aos componentes dos medos. Sempre temos mais temores em nossas veias que as criaturas sem o estro da Poesia. Contudo, douramos a pílula com o ouro dos tolos, dos insensatos e dos usurários. Estes estão aí a todo o tempo e fazem regras. Sabemos que a vida é curta. Não há tempo sobrante para mágoas. Se não, o coração baqueia mais rápido. E quando isto ocorre, não há mais vida para a ilusão dos sonhos do dia seguinte.

– Do livro inédito O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2008/11.

http://recantodasletras.uol.com.br/cronicas/1743112