Na Escola dos Sábios estamos no Jardim da Infância
 

 
Pensem em qualquer atributo de seres iluminados ou na busca determinada de criaturas para encontrar o elo perdido que a levaria à evolução espiritual. Pense se haveria um local físico apropriado para esse encontro. 
Se sua consciência ou seu coração responde: busque a Natureza! Vá, é um caminho. A Natureza nos ensina o Nascer, o retorno à origem e a estar presente entre um e outro ponto. Nem menos, nem mais. No equilíbrio.
 
Nessa escola, sinto uma afeição especial pelas ÁRVORES. Converso com elas. Aprender com as árvores...Por que? O que?
Há inúmeras razões. Imaginem um bosque, folhas no chão. Amareladas, secas, úmidas, limo, matéria orgânica em decomposição. Sob uma folha, uma sementinha (pode ser de alfazema, goiaba, manga, pitanga). Qualquer semente. Ela luta para romper a terra, germinar. “Vê” a luz, estica-se, num esforço hercúleo passa através da folha. Lá está o broto, que vai crescendo. É necessário que aprenda a enfrentar a ventania que dobra sua estrutura frágil, é preciso suportar o rigor da chuva forte que o mistura com a terra (será que saio daqui ainda? Pensa o broto). Mas vem o sol e ele fica novamente na vertical. Aprendeu a adaptação. Compreendeu o fluxo da Natureza, os ciclos da Mãe Terra e torna-se árvore. Acontecem o nascimento e a transformação ao mesmo tempo.
 
Há muito mais...Há um tempo em que botões surgem nos seus galhos e flores simples ou exóticas são presentes para nossos olhos. Em um ato despretensioso ela oferece o que tem de bonito, com amor, generosidade, na confiança de que mais adiante suas flores vão fazer alguém sorrir. Em outro momento, ela vai expandindo seus galhos cheios de folhas de diferentes tons de verde e abraça em sua sombra qualquer um que ali desejar descansar. Ela sabe o que é proteção e acolhimento no momento certo. Quando suas flores transformam-se em frutos pode-se pedir licença e saborear ali mesmo, sob ela em uma total entrega, respeito e agradecimento mútuos. Afinal, quem gosta, cuida, não é mesmo? Ela sabe disso.
 
Porém é época de despojar-se. Com humildade, tolerância e paciência ela deixa-se despir pelo vento. Suas folhas amarelecem, secam, caem. Sem pudor mostra-se nua e aparentemente seca. Ela sabe que só com a aceitação das mudanças naturais ela ficará bonita de novo. Com calma, sensibilidade e em harmonia com o meio ambiente ela deixa-se encharcar pela água gelada e refrescante que cai do céu. Os milagres do novo ciclo estão prestes a acontecer.
 
A árvore ainda ensina muito mais. Ela também sabe perdoar. Muitas possuem perfume em seu interior, e quando o machado ou a serra ferem seu tronco, como acontece com o cedro, eucalipto, pinheiro, sândalo, ela perfuma o ambiente e deixa marcado no instrumento autor de sua tortura o seu perfume. Outras choram quando são podadas. Todas riem quando são regadas.
 
Plante uma árvore ou escolha uma por onde você costuma andar e seja sua amiga.Tão amiga que nunca fica de costas para ninguém. Dê uma volta em torno de uma árvore e verá que ela estará sempre de frente para você.  Ela sabe o que é amizade. Ela é fiel. Experimente abraçar seu tronco, na altura do coração. Se estiver nervoso, inquieto, ansioso, passe uns dez minutos assim. Ela sabe transmitir energia, tranqüilidade, segurança, proteção, fé. Se você for íntima dela, coloque seu ouvido em seu tronco, escolha de preferência, um local onde houver uma protuberância, preste atenção e você ouvirá o coração dela bater, a seiva correndo pelo tronco. De verdade. (Mande-me um e-mail contando sua experiência)
 
Quando chega o tempo de retornar, ela o faz quase sempre de pé, normalmente.(quando o homem permite) Nasceu, esteve presente e despediu-se. Mas fez uma grande diferença!Haverá outro nascimento, outra transformação. Ela voltará, pois deixou sua essência na Terra, porque assim é, com todos os seres vivos.
 
Conta-se que nos ilhéus da Salomão lenhadores com dons especiais ao encontrar alguma árvore grande demais que não pode ser abatida por machado esperam a madrugada e silenciosamente rastejam até ela e começam a gritar. Gritam alto, e gritam com toda a força de seus pulmões por trinta dias. Então a árvore morre e cai. Eles dizem que os gritos matam o espírito da árvore.
 
Com gritos ou machados, deixemos tudo isto de lado e, sob uma árvore ou a ela abraçados, podemos experimentar sensações prazeirosamente indescritíveis.
 
(Crônica no livro Presente da Arara Azul)
 
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“Quem sabe gritar com coisas vivas mata o espírito delas” (frase de Robert Fulghum) no livro Tudo que eu devia saber aprendi no jardim-de-infância