SABOR DA VIDA
Quero registrar aqui a alegria de ter podido participar de um Evento, que ao meu conceito foi muito mais do que um fato social, foi na realidade um convite aos presentes para observar e refletir melhor sobre a vida e principalmente chamar-nos a atenção sobre a qualidade das relações afetivas entre pais e filhos e da beleza e importância da formação da família que estrutura o caráter psicosocial das pessoas, no caso os filhos. Convite este que nós, escritores, desta coluna fazemos toda semana com os escritos que deixamos para deleite dos leitores do Site, cuja meta sempre de levar à Reflexão e quem sabe deste modo promover alguma mudança, por menor que seja na vida pessoal de cada um dos leitores. No evento, que me referi acima, o tema girou em torno da homenagem que um casal fez aos pais num livro intitulado “Os mestres de nossas vidas” (Cristiane e Jorge Beira). A homenagem veio também em forma de uma palestra “Família” proferida pelo Senhor Raul Teixeira, que por sua vez reforçou a importância desta união social que é o alicerce de nossa sociedade. Eventos desta natureza fazem a diferença numa sociedade tão carente de bons valores.Os filhos que declaram publicamente suas relações parentais e os vínculos fincados entre ambos, pais e filhos, têm sido cada vez mais raros, e isto o casal Beira deixou-nos como um profundo legado dos vínculos estabelecidos com seus pais.
Estamos perto da comemoração do dia dos Pais e a pergunta que fazemos: Quantos filhos se sentem confortável na idéia de homenagear seus pais com carinho e proximidade? Quantos apenas dão uma passada na casa dos pais para dar um alô, ou levar uma “lembrança”, pelo simples toque do marketing comercial – Dia dos Pais. Sim, porque para nós todo dia pode ser dia dos pais, das mães, dos filhos, da esposa, da mulher, do amigo, etc, etc. Dias para homenagens não nos faltam, mas nada disto terá importância se não trouxermos para dentro de nós mesmos os valores afetivos que cada um tem para conosco. Dias que nos conduzam ao encontro daqueles com quem vivemos quer seja no lar, no trabalho ou mesmo num contato apenas social. Precisamos aprender ou re-aprender a valorar a importância das coisas e das pessoas que nos pertencem.
Ao referimos sobre o sabor da vida estamos lançando a idéia de dar sabor aos vínculos fraternos, tanto quanto damos a uma apetitosa comida, ou mesmo um prazer na aquisição do carro novo, da roupa nova ou qualquer outro bem de consumo que nos faça sentido, expressar assim é para levar-nos ao contato direto com o significado real ou não de uma pessoa querida perto de nós. Notamos que nos tempos atuais já não temos disponibilidades para os contatos íntimos, duradouros e eficazes. Notamos uma fragilidade, uma exteriorização dos sentimentos e das sensações. A alegria e a felicidade passam rápidas demais, cede muitas vezes lugar para a tristeza e as depressões recorrentes. Tudo é da hora, para ontem, o ontem é passado já não serve mais. Hora de pararmos para pensar na importância de cada pessoa e cada coisa em nossa vida, da importância daqueles que se foram ou mesmo dos que ainda estão aqui conosco. E pensarmos em como dar a partir dos afetos mais sabor a vida.
Ao sabor da vida lançamos uma luz na relação entre pais e filhos. No passado, e isto foi revivido na noite daquele evento, as figuras dos pais eram reverenciadas e tidas como modelos a ser seguidos, como figuras de orgulho e brios. Antigamente, os pais eram leme para a vida dos filhos. Hoje na relação de igualdade entre pais e filhos, muito deste teor ficou prejudicado, pais não conseguem reconhecer a função de educador e condutor da vida dos filhos e filhos não encontram no olhar e nem no colo paterno a segurança tão necessária para a formação do seu caráter. Muitas vezes observamos pais competindo com os filhos um lugar na casa dos desejos. Se antes os pais costumavam dizer que queriam para seus filhos tudo aquilo que eles não puderam ter, e prestem atenção que esta idéia não significava dar tudo que os filhos queriam, mas sim de lutarem para vencer e dar uma vida melhor para os filhos. Já hoje esse mesmo pensamento toma um caráter de permissão e facilitações das vontades e desejos dos filhos, e o pior, sem representações éticas e morais. O sabor deste tipo de educação e cuidados paternos tem ficado amargo demais e sem limites. Os resultados estão fundados no imediatismo e na falta de sensibilidades para colocar-se no lugar do outro.
Ao sabor da vida o jeito egoísta como as pessoas vivem e encaram o dia a dia, estão claro e ativo na sociedade atual. Diga-se de passagem que ouvimos expressões como: “é preciso andar rápido porque atrás vem gente”, ou “a fila anda”, ou ainda “se eu não cuidar de mim quem vai fazê-lo?”. Lamentável tudo isto, pois bastaria um olhar de ternura e gesto de carinho entre pais e filhos, entre marido e mulher, entre patrão e empregado, entre vizinhos, para que o elo da cumplicidade, do respeito e da razão se estabelecesse. Hoje as doenças mentais e de condutas são notadas em todas as esferas da sociedade. Não há mais distinções de classes sociais, a doença mental e do comportamento está por todos os lados, vorazes e indiscriminados. Há sim, medicações e tratamentos alternativos para tudo que está por aí adoecendo. E todas as alternativas de terapias surgem oferecendo alívio ou “cura” para as carências humanas, chegam para ocupar um lugar que ficou vazio pelas figuras parentais e pelos lares desfeitos.
Aos sabores da vida esperamos redescobrir o caminho da força e da união entre pais e filhos. Que os pais saibam, ou reencontrem o lugar que só a eles pertencem. Lugar de educadores, mestres e senhores do lar. Aos filhos desejamos que possam encontrar nos seus pais carinho, amparo e a certeza de sentirem sempre a presença deles quando a vida lhes parecer difícil. Poderem olhar na direção deles, pais, e agradecer por tudo que eles fizeram mesmo que às vezes as doses de correção tenham sido amargas demais. Esperamos assim, quando o filho lançar o olhar para dentro de si mesmos possam identificar a presença especial das suas figuras paternas.
Nossa homenagem a toda família, não só as figuras dos Pais, mas a todos os lares compostos por pai, mãe e filhos, mesmo aqueles lares cujos pais já faleceram. Bendizemos o Lar e toda importância que este núcleo, esta sementeira social tem para a construção dos filhos de uma nação. Lamentamos aquelas pessoas que não conseguiram encontrar na união conjugal o caminho para formarem um Lar, uma família. Sabemos o quanto é difícil para ambos, mulheres e homens, cuidar dos filhos em separados, principalmente quando não há entendimentos entre pai e mãe. Principalmente quando o sabor da vida em conjunto azedou e estragou de tal forma que a única solução que encontraram foi à separação.
Dê mais sabor a sua vida, dê neste dia dos Pais um abraço apertado nele, descubra o gosto de permanecer algumas horas junto de sua família. Não invente nada que lhe tire de perto dele neste dia e depois no dia seguinte experimente repensar o que foi para você ficar em família ao menos no dia que a sociedade homenageia todos os pais.
Graça Costa
Amparo, 08/2009.