CENA INSÓLITA
No trajeto que faço, diariamente, do meu lar à casa lotérica, após o meu expediente, percebo sempre alguns ônibus escolares e de turismo estacionados num local da avenida principal aqui do bairro, por sinal, bastante movimentada. Aparentemente, nada de anormal. Terminado o expediente, como os seus respectivos donos não devem onde guardá-los, deixam-los ali até o dia seguinte, quem sabe. Acontece que, entre eles e um muro que isola um grande terreno particular, forma um corredor na calçada estreita, causando alguma insegurança, deconforto e mal-estar, sem falar na escuridão que forma nesse trecho estreito, formando um corredor,dando muita chance para uma súbita e desagradável abordagem por parte de alguns meliantes, o que ninguém, em sã consciência deseja, diga-se de passagem. Portanto, o certo ou errado é que nós, humildes pedestres somos obrigados a passar por ali se não quisermos dar chance a um perigo maior de um possível e perigoso atropelamento, se optarmos passar pelo meio da avenida rente aos ônibus. Outro constrangimento ocorre quando o pedestre está apressado e na sua frente se depara com pessoas caminhando, paulatinamente, como se estivessem contando os passos...Bem, mas isso chega a ser uma exceção.
Nesse famigerado e estranho local presenciei, há poucos dias, uma rápida cena insólita, a qual me chamou a atenção e de certa forma, constrangimento.. Aconteceu o seguinte: aproveitando, talvez, que naquele exato momento não havia quase ninguém passando, um senhor sentiu uma incontrolável vontade de, como se dize, popularmente, tirar água do joelho, ou seja, urinar e não pensou duas vezes. Ali mesmo, entre dois ônibus satisfez a sua necessidade fisiológica. Passei por ele e não dei muita atenção àquela cena insólita. Pelo contrário, respeitei-a. Afinal, um aperto dessa natureza pode acontecer com qualquer pessoa, principalmente após tomar algumas cervejas a mais. Só que, concomitantemente, dois senhores que vinham na direção oposta, quem sabe, achando-se os reis das boas maneiras e da moralidade, não perderam tempo. Chamaram a atenção daquele senhor com tanta arrogância que parecia que eles eram os donos da verdade moral e dos bons costumes:
-“O senhor não tem vergonha de, com essa idade, fazer xixi no meio da rua?” – Falou o primeiro.
-“Quem mija em pneu de carro é cachorro, tio!” – Continuou o segundo.
Diminuí um pouco o passo, olhei para trás e ouvi a resposta daquele senhor, cuja voz realmente parecia um tanto pastosa, enrolada, em razão de alguma bebida alcoólica, mas o seu raciocínio estava funcionando muito bem. E respondeu com destemor:
-“Primeiramente, você é um cego metido a besta: não estou no meio da rua porque senão seria atropelado. E quanto a esse outro seu cupincha digo uma coisa: se eu tivesse um sobrinho da sua laia eu mandava para o ponte que caiu para não dizer outra coisa! E digo mais, vão cuidar da vida de vocês, pois da minha, cuido eu!”...
Como outras pessoas nesse exato momento passavam pelo local, a cena foi logo desfeita. Mesmo assim, ainda ouví um curto solilóquio daquele senhor que murmurou algo assim:
-“Sempre aparece algum idiota querendo ser “dono” da rua numa hora errada! E alé do mais, querendo dar lição de moral, pode uma coisa dessa?
Continuei o meu percurso apenas pensando: pelo menos aqueles ônibus ali estacionados serviram para alguma coisa: banheiro público! E quanto aquele senhor que urinou num lugar recôndito, teve até muita sorte, pois se naquele momento não estivesse passando gente por aquele local, a situação poderia piorar para o lado dele, caso aqueles dois “moralistas” de meia tigela resolvessem apelar e terminar com alguma agressão física, além da verbal como começaram. Mas, ainda bem que entre os mortos e feridos, todos se salvaram. Ainda bem
João Bosco de Andrade Araújo
www.joboscan.net