UM JOGO SEM REGRAS FIXAS

Taí, joguei um jogo e na hora de pagar pra ver, amarelei. A noite chegou ao fim e meu parceiro naquele pôquer da vida arrefeceu em entusiasmo, retirou-se da mesa. E por longo tempo fiquei tentando trazê-lo de volta mas ele nem aceita, nem desiste. Nâo há situação mais incômoda para quem como eu percebeu o erro cometido e não quer desistir de jeito nenhum, do que um parceiro que nem vem ao jogo, nem te manda às favas.

E haveria mesmo esta hora certa de apostar tudo sem pensar? Pois se de tantos erros já surgiram tantas coisas, dizem que até uma Igreja nasceu de uma mal sucedida previsão de revelação dos céus que juntou um bando de gente, e como já estavam lá mesmo, resolveram fundar a tal seita. Então esse negócio de hora certa, hora errada será mais uma questão de retórica? Um efeito literário pra texto de principiante, quero crer.

Eu não me considero alguém que vá desistir diante do resultado de qualquer estratégia infeliz que possa ter empregado. E nem pensar em jogar a toalha, isso pra mim é também efeito de retórica. Quando alguém supostamente "desiste" do seu parceiro é porque este não tinha mais a menor importância em sua vida, já vivia nas bordas do programa, na gaveta dos papéis esquecidos que a gente guarda por guardar mas sabe que certamente nem vai mais ler. Ninguém descarta o que ainda interessa. E se não interessa mais, então nem é preciso se dar ao trabalho de vivenciar esta imagem dramática de lutador sob golpe fatal aonde é preciso desistir na marra, mesmo desejando ardentemente vencer a parada. E se alguém desiste sem ter lutado, por medo ou incompetência, aí na verdade é dar ao outro jogador a vitória por W.O. Mesmo quem aparentemente só esteja cumprindo o carnê e levando a vida em uma situação vista de fora pelos outros como ruim, está aí porque alguma coisa ainda o atrai de alguma forma. Nem que seja curtir um masoquismo ou repetir algum modelo do qual não conseguiu se livrar, ou quiçá conservar a desculpa pra não ir atrás de um amor de verdade. Pois em investimento ruim, em uma relação tão falida há que somente abrir a porta e sair, pois não há como entregar os pontos se nenhuma luta mais havia, nenhuma fezinha no bicho que seja, apenas por vício e total incompetência de arranjar coisa melhor. Somente abdicamos de nossos desejos quando morremos, aí não tem mais jeito mesmo. Afora isso, é um nunca desistir de pelo menos poder sonhar com o encontro, com o carinho de outra pessoa, sua presença.

Passei bom tempo esta noite remoendo sobre minha aparente derrota. Ocorre que o meu parceiro, após longa ausência, compareceu se fazendo de indignado , aparentando desinteresse, atendeu ao meu telefonema querendo demonstrar uma certa indiferença e até me agredir com umas gracinhas inconvenientes. Aguentei firme. Foi uma grande vitória fazê-lo comparecer ao palco e dizer suas falas. Optou por apostar agressivamente mas eu fiz uma retirada estratégica. Ele perguntou "é uma decisão tácita?" e eu não perdi a chance e respondi "tácita não, talvez uma decisão tática..." Mas fiquei sofrendo feito condenada. Entretanto, sei o que está em jogo. Um jogador precisa apostar tudo quando a parada é de tal feitio, pois esta história de que tem tanta gente legal pra conhecer é papo pra consolar jogador iniciante. E tem mais, o jogador em desvantagem precisa ter controle das emoções e tentar reverter com perspicácia.

Jogar a toalha... NUNQUINHA ! O negócio é mudar as regras do jogo!!!

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 07/08/2009
Reeditado em 07/08/2009
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