No ocaso da vida
Faz-me rir, como gostam de dizer os lusitanos, quando leio sobre faniquitos, ataques de enfado ou gestos grosseiros de algumas pequenas celebridades diante da “perseguição” de fotógrafos, do assédio de fãs, da insistência de repórteres, dos comentários de jornalistas e outras manifestações do gênero. Pensar que algum tempo antes tais celebridades suspiravam exatamente por dose infinitamente maior do incômodo que agora revela sua hipocrisia. Esses gestos me lembram do espanto que tive ao ver a fotografia de uma setuagenária senhora. No rosto os sulcos e vincos da idade, marca dos anos vividos, contudo, trazendo ainda uma réstia de beleza. Mas, um pouco de maquiagem e ela estaria em condições plenas de encarnar qualquer papel de bruxa malvada como aquela que levou as maçãs para Branca de Neve, a Maga Patalógica ou a horrenda Madame Min que povoaram minha infância. “Essa mulher deve ter tido alguma beleza”, diria ou pensaria alguém que não a conheceu. Quanto à beleza física digo eu que era demais! Estonteante, de parar o trânsito (quanto vezes isto não aconteceu?), a motivar beliscões e reprimendas das senhoras casadas, das noivas e namoradas de então, diante da rápida, disfarçada ou explicita admiração de seus pares. Mas a diferença daquele tempo para os dias de agora é abissal. Ela foi um ícone, um sex symbol. Seu nome significava e irradiava beleza e sensualidade. Não foi exagero ter sido escolhida pelo marido cineasta e fã número um, para protagonizar o filme “E Deus criou a mulher”! Seu nome: Brigitte Bardot. Hoje significa aquilo que o profeta escreveu: “as vaidades nada aproveitam e tampouco livrarão, porque vaidades são”, mas que a grande maioria dos seres humanos não atenta e só se dá conta no ocaso da vida. Ela atualmente preenche seus dias como ecologista na defesa das baleias, sem que tenha um naco da visibilidade que teria naqueles áureos dias, o que faz lembrar o pregador de Eclesiastes: “lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os dias maus (de canseira e tédio) e diga neles não tenho contentamento”. A lição milenar está ai para quem tiver ouvidos ouvir.
Veja as fotos em: http://robertopimentel.blogspot.com/