DECIFRA-ME OU TE ...
É certo que não estamos sozinhos em nossa caminhada e é lógico que devemos compartilhar esse caminho que percorremos com o outro vestido com a máscara de um amigo ou oculto em olhos desconhecidos, (e por vezes, quando é exigido, vestido de inimigo). Parece simples; e assim seguimos todo peregrino rumo a esse destino que desconhecemos, mas na pressa de chegarmos lá sabe Deus onde, apenas reagimos a esses encontros como se eles não representassem nada e esquecemos de reparar que uma Esfinge aparece em cada rosto, nos propondo um enigma, que por exigir uma resposta, também é uma ameaça:
“Decifra-me ou te devoro!”
Esse enigma é a base de toda a ciência da nossa existência e estudando esse símbolo, fugindo um tanto da lógica, conseguiremos seguir o fio de Ariadne para fora desse labirinto de ilusão, mas se não dermos a merecida atenção a esse enigma, de certo enfrentaremos o Minotauro vestido com a nossa razão.
Nessa festa de arquétipos, aos olhos dos deuses, nós, os mortais aparentemente cegos, peregrinos da vida de pés inchados, somos confrontados com a Esfinge, este ser que se oculta pelas ruas e aparece em todos os cantos, na face do outro, no olhar do estranho, exigindo um conhecer além da superfície; um ousar no querer saber e se não respondermos a esses encontros com o devido respeito ao que eles significam; a Esfinge cobrirá a nossa alma com mais uma camada de ignorância; pois afinal, todo símbolo exige ser interpretado, para seguir calado; e ignorar é ser pouco a pouco devorado.
Não há tragédia grega nesses encontros, nem muito menos mistério, pois a chave do enigma é sempre a nossa atitude em relação ao outro. Por certo, decidimos se queremos encontrar em cada pessoa o inicio de um novo destino ou se desejamos ver no outro um obstáculo.
Decifrar esse enigma é o segredo do tempo e o destino ignorado por nós todos; pois o hoje vira rápido amanhã e quando o encontro com esse "outro" for apenas uma lembrança, entenderemos se deciframos o enigma da Esfinge ou se fomos devorados pela nossa arrogância.