A imbecilidade ao alcance de todos
O deputado pastor Nivaldo Manoel propõe projeto de Resolução determinando que antes de começar as sessões na Assembléia Legislativa da Paraíba, os deputados façam a leitura de um trecho da Bíblia e uma reflexão. No Brasil de tantas idiotices legislativas, a Paraiba sai na frente nessa espécie de jeguice religiosa. Nossos deputados são os primeiros a tomar uma decisão desta natureza.
Em muitas câmaras, as sessões começam com a invocação da proteção divina. Algumas colocam a Bíblia permanentemente na mesa e outras iniciam as sessões com a leitura de um versículo. Mas a história da reflexão é novidade. E é antidemocrático, ao menos no que se refere à discussão de projetos que interessem às minorias, sejam religiosas ou qualquer outra. Os deputados e vereadores se pegam com a Bíblia, travam o debate e não deixam aprovar projetos em favor, por exemplo, dos homossexuais. Se o Estado é laico, não há porque privilegiar uma religião.
O primeiro parágrafo do artigo 19 da Constituição diz: "É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios, estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público".
Portanto, o uso de símbolos e a realização de cultos estabelecem uma aliança entre o Estado e uma religião, que acaba sendo privilegiada em detrimento das demais.
O projeto já é motivo de chacota em todo o país. Um sujeito metido a humorista daqui da Paraíba já descobriu os temas das primeiras reflexões. Os deputados Quinto de Santa Rita, Ranieri Paulino e Gervázio Maia Filho irão refletir sobre Provérbios 4:1, que diz: “O filho sábio ouve a instrução do pai”. Já Nivaldo Manoel e outros semi-alfas da Assembléia deverão explorar o tema de Provérbios 13:13: “O que despreza a instrução perecerá”.
Os vereadores de Caicó, no Rio Grande do Norte, estão às voltas com um dilema mais terrestre. Acusado de ser gay, o vereador Paulo Roque quer ser submetido ao exame de conjunção carnal via reto para provar que não tem nenhuma “prega quebrada”. O vereador Miltão aproveitou para requerer que a medida fosse estendida para todos, incluindo os radialistas que acusaram o vereador. A grita foi geral, todo mundo de costas para a parede, protesto unânime contra o “exame da goma” generalizado.