Tim Maia

Que coisa essa a do desperdício. Talvez Sílvio Caldas, Frank Sinatra sejam as exceções. E não é só o vozeirão do cara. A sua esperteza, sagacidade, inteligência, lucidez, barulheira. A sua rebeldia em relação às facetas do sistema.

E a certeza que temos de que nesse momento existem algumas outras pessoas repetindo de alguma forma os mesmos passos de Tim Maia. Como Raul, Elis, Rafael Rabelo e até o grande Mané, e muitos outros. Que foram e ainda serão. Vamos tentar salvá-los! Não adianta. E como não adianta, ninguém vai querer salvá-los.

Que coisa essa a do destruir-se ou deixar-se destruir. Parece uma saga. Será um lugar-comum? Alguma coisa porque todos têm que passar? Será um trato que fizeram para terem as suas virtudes? Ou será que só quem passa por isso deve ser respeitado? E por aí estamos ao nível do primeiro mundo. Senão vejamos: Jimmi, Janis, Lady Day, Kurt Cobain, Chet Baker, etc.

Será que é uma maneira de lutar, desafiar o que está estabelecido? Será que é um modo de dizer “eu sou diferente”? Uma maneira de acreditar que “sou mesmo melhor que muita gente”?

As pessoas não estão muito a fim de saber a razão. Já está mais ou menos estabelecido que os ídolos, de um modo geral, deverão ter um fim trágico ou, pelo menos, deverão morrer cedo e desnecessariamente.

Alguém duvida de que se se cuidasse mais, Tim Maia ainda nos brindaria muitas vezes com aquela sua voz aveludada e potente? Aquele seu raciocínio rápido e comentários mais preocupados em dizer (o que pensa) do que falar (para agradar)?

Até que ponto ele (mesmo) estava se importando com isso? Até por saber que muitos se preocupavam com isso. E assim ele podia deitar e rolar.

Você pode estar pensando que estou querendo dar uma de psicólogo, e tem razão. Não é a minha praia. Mas é que sempre me encucou a desses caras: brigam, crescem, tornam-se grandes, bem grandes, e depois se jogam lá de cima, de propósito, talvez até com prazer, prazer de fazer doer nos outros, para caírem não se sabe bem aonde.

Rio, 16/03/98