A cortina dos olhos

Cataratas do Iguaçu! Que maravilha! Vê-la ao vivo é privilégio. Caminhando por um arvoredo cheio de borboletas, principalmente azuis, ouvindo o barulhão, até chegar ao ponto de a vista descortinar a verdadeira queda é algo quase indescritível. Fica-se ali imóvel, de boca aberta. A força da Natureza, com tamanha beleza,nos faz sentir diminutos. Os olhos passeiam acompanhando a descida daquele jorro imenso.No meio da névoa de gotículas que se espalha com o vento, arco-íris se formam colorindo a brancura da espuma. E andar de lancha lá embaixo, como fizemos, até aperta o coração. Além de nos sentirmos insignificantes, a força das águas caindo, junto com a braveza da correnteza, mistura medo com emoção. Se nosso barquinho virar, babau, nunca mais sairemos daqui... Felizmente o barco não virou, sãos e salvos voltamos, marido e filhos crianças mais alegres do que eu. Confesso que tive muita apreensão. Gostei mais de percorrer a visão lá de cima, do lado brasileiro e também argentino.

Lembrei de tudo isso hoje por causa de outras cataratas. Aquelas cortininhas que começam a descer nos olhos, atrapalhando a visão da gente. Para cada pessoa acontece de um jeito diferente. Pode ser num olho só, chegar de repente, ou devagarzinho, já nos dois olhos de uma vez. De maneira imperceptível a membrana vai se descolando, até que chega o momento em que pode ser retirada. Aí então, zás, laser pra nos livrar dela!

Ontem, após exame oftalmológico, a médica deu a notícia. Início do processo nos dois olhos. Provavelmente levará mais de ano pra começar a incomodar. A mim, agora, só resta esperar...

Preferia que fosse cascata.