Não Explicaram os Procedimentos
Lá para as bandas de São João da Ponte, bem aculá, como aponta o peão mirando no longinquo horizonte. Severino nasceu e cresceu na rustica vida sofrida de sol na cagunda e suor que pinga no bico da botina, irmão do meio de uma trole de 20 cabeças, se casou e quase iguala ao feito do pai, fazendo 19 filhos. Só não completou a outra quantia por que a esposa dona Senhorinha ameaçou largar o casamento se o fogo não baixasse. Eis que a ampliação dos serviços de saúde levaram para a comunidade rural equipes de Saúde da Família, que até então estas criaturas só viam medicos e orientação sobre a saúde se adoecessem a ponto de vela na mão, ou se fosse picado por algum animal peçonhento. Ao chegar perguntaram a Senhorinha se já havia feito um exame de prevenção, a dona respondeu negativamente e ao Severino sobre o exame de prostata também da mesma forma. Olharam os dentes dos filhos, fizeram testes de visão arregalando os olhos para ver se tinham anemia, falou sobre lavagem das mãos e os cuidados alimentares, condenou a cachorra bolinha que apresentava evidencias de Calazar e por fim marcou para segunda feira os exames de prevenção para ela e prostata para ele.
Ninguem alí sabia o que eram
os exames, com vergonha de perguntarem na hora para os profissionais, se atreveram depois aos amigos, porém ninguem fazia a menor idéia do que era prevenção ou prostata. Mas a curiosidade passou logo, e tocaram suas vidas sem maiores novidades até a segunda feira de manhã onde apearam do onibus no centro de São João da Ponte. Na Policlinica receberam umas fichas e aguardaram, Dona Senhorinha foi chamada, Severino observou bem a porta do consultorio e aguardou, passaram-se alguns minutos e nada da mulher sair, começou a impaciência, levantou andou em frente, deu mais alguns passos e nada da esposa sair. Ameaçou acender um cigarro de palha mas foi impedido pela recepcionista. Chegou ao limite, as mãos já estavam trêmulas quando adentrou ao consultorio de forma bastante bruta, e para a surpresa desagradável dona Senhorinha estava deitada na maca ginecologica de pernas literalmente arreganhadas, com a vagina descoberta e escorrendo um gel usado no procedimento, o médico havia ido ao banheiro e voltava abotoando o ziper, Severino puxou o facão da cinta e só não partiu a velha na maca, por intercessão do vigia que fora acionado, o Ginecologista sem saber do que se tratava correu dalí, enquanto o possesso marido queria vingança. A honra da familia fora manchada, Senhorinha daquela idade, depois de criar todos os filhos resolve trair o companheiro de tantos anos, aquilo era inaceitável. Precisou de mais um dois e três vigias, o moço estava irreconhecível, Senhoriha teria que morrer alí mesmo, seria esquartejada na frente do amante para mostrar que ele era macho, a honra do matuto fora sacrificada, e ele não admitia, tudo menos isto! na sua cabeça há muito tempo "ele comia pão com banha"!. E começou a relembrar os possiveis amantes da esposa, das vezes que viajarara e a deixou só como os filhos , pensou no compadre Raimundo que todos os dias de manhã passava na casa pedindo um gole de café com requeijão, agora ele sabia que o padrinho de Bastianinha queria era outra coisa, estava se deliciando de outro gosto.E o vaqueiro Sabiá que trazia ramas de alfavaca para dona Senhorinha fazer chá, no minimo era trocado por sem vergonhices, talvés alí mesmo na moita de capim santo que estava amassada. Ninguem segurava Severino e a polícia foi acionada, tomaram o facão e reviraram os bolsos do desonrado, cheiraram a tóra de fumo para ver se era maconha e olharam a palha de milho no RX, tentando encontrar vestigios de cocaina, o moço estava lúcido era um louco sem nada no sangue mesmo algemado esperneava e chutava o carro da polícia, vociferava vingança, mal dizia Senhorinha e não se importava que estava detido, a honra estava suja sua cabeça que até então só usara chapéu de palha, estava com desconfortáveis pares de chifres para todos verem. Alguém precisava morrer o sangue da desonra deveria escorrer neste chão .
Na delegacia são colocados todos diante do delegado, a mulher medonha e chorosa o marido possesso e sequioso de vingança, e o médico que dava sua versão. Após os depoimentos a conclusão : o terrivel mal entendido, o exame de prevenção que nem Severino nem Senhorinha haviam sido orientados do que seria. O delegado notificou a Unidade de Saúde e os profissionais foram convocados a fazer treinamentos sobre todos estes tipos de situações. Mesmo assim Severino teve que pagar fiança para ser liberado, pois o o facão foi usado para ameaçar a esposa de morte. Enfim, tudo resolvido o médico entendeu e até pediu desculpas em nome da equipe, e lá foi Severino de volta para a Policlinica era seu exame de prostata, feliz por não ser corno, desfez-se das idéias de traição e até sentiu um calor enrijecer sua masculinidade quando lembrou da esposa de pernas abertas, pensou sutilmente : "Hoje vai tê". Bem, sentados na porta do consultório sob os olhares desconfiados dos funcionários qua passavam o casal conversava em cochichos quando o atendente chamou pelo nome de Severino. Deu até logo para a esposa e entrou, minutos depois sai o médico correndo feito louco, gritando socorro de jaleco e luvas nas mãos e Severino atrás, chamando-lhe de todos os palavrões possíveis que pode existir no dicionário da ira, trazendo na mão direita um suporte de soro que seria usado para dar na cabeça do infeliz, que desrespeitou o matuto trabalhador do sertão norte mineiro, que ensinou para seus filhos que homem deve ser macho, que a parte de trás deve ser usada apenas para as necessidades fisiologicas. Severino está em surto, quem entrasse na frente corria o risco de ser presenteado com uma pequena ou grande cacetada na cabeça, ele estava ardido, ele queria matar alguém, sua honra estava maculada nunca mais teria coragem de olhar para os filhos. Daquele momento em diante tinha se transformado em um Baitôla, quem leva dedo alí é só este tipo de individuo, e o médico grita socorro e tenta se esconder, Severindo quer sangue antes de contar para sua familia que fora feito moça no consultório, precisava matar o médico que o enganou, viera de tão longe acordando no primeiro canto do galo, na poeira da estrada no bate-bate do Onibus sem cinto de segurança para isto? Não, isto não pode ficar assim. A polícia é chamada e o delegado prende o médico e a recepcionista. Acusação : Negligência nas informações, mais uma vez na explicaram o procedimento...