A EXTINÇÃO DA ESPERANÇA NO PRÓXIMO

O mundo contemporâneo traz em sua essência a “extinção da esperança no próximo”. Há algum tempo esse “próximo” deu lugar ao “Outro” que, trazendo à baila as palavras do nosso grande filósofo Sartre, esse “Outro” passou a ser o meu inimigo, competindo comigo, trazendo intranqüilidade, sofrimento, determinando minha felicidade ou infelicidade. Deveras estamos submetidos ao “Outro” e, o pior, esse que se encontra moralmente arruinado. Sinto-me como uma coleção de espelhos refletindo o que os outros esperam de mim. É exatamente o que a Análise Transacional chama de nossa “mola propulsora” feedback positivo, preciso desse retorno do “Outro” para validar minhas conquistas, meu EU. Onde está aquele homem onipotente, que converge toda sua sapiência para si, capaz de criar e aplaudir suas conquistas? Preciso sempre desse “Outro” ora para me aplaudir, me desejar, me rejeitar; ora para ser melhor do que ele. Por que então não permito a proximidade dele? Eis o conflito existencial.

A utopia de desejarmos ser cada dia melhor fez com que o “próximo” se tornasse distante, coisificando a própria vida, criando um modelo de homem distante da humanização: esse que se deixa guiar pela fantasia, abraçando o efêmero; um homem ousado e desmedido.

Essa busca incessante pelo TER resultou no desmoronamento do sujeito, que perdeu suas referências e passou a construir seus valores ancorados no poder; priorizando o TER em detrimento do SER.

Mas onde está o próximo? Acredito que não gostamos de gente, ou gostamos mais de coisas do que de gente. Não raras vezes, todos esperam com desespero a felicidade, a completude e, sobretudo, um lugar de destaque. O homem é um ser de desejo, de potência. Ás vezes é ignorante daquilo que quer, mas deseja ainda que não saiba o quê. Ele recomeça a cada dia com expectativas, esperanças. É sempre uma possibilidade de ser, tendo que escolher a cada momento o que será no momento seguinte.

Pois bem, está na hora de fazer desse “Outro” um verdadeiro e poderoso aliado. O momento é de repensar, de abandonar a posição de contemplação da degradação alheia ou da própria degradação, de deixarmos de ruminar o fracasso e refazer a amizade, e não ficarmos reinventando mirabolantes formas de vida.

Quênia Rodrigues
Enviado por Quênia Rodrigues em 04/08/2009
Reeditado em 04/08/2009
Código do texto: T1736370
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.