VOLTAR A VIVER






O ser humano possui um limite para sentir dor. Uma vez ultrapassado, como a gota que transborda o copo, a pessoa adoece. Alguns desenvolvem gastrite, úlcera, hipertensão, psoríase, vitiligo, etc. Em outros, a dor não é expressa através do corpo, mas na esfera emocional. Uma das possibilidades mais comuns é a depressão. As razões variam desde desequilíbrio químico ou hormonal a fatores de pré-disposição genética. E é "democrática". Afeta crianças, adolescentes ou adultos.


Introdução feita, passo a escrever na primeira pessoa do singular. Na metade do ano passado, minha dor era algo intraduzível. Perdi o chão. Minha alma estava imersa em vazio. E o vazio está repleto de ausência do sentido! E justamente por isso, só faz machucar! Dor que não encontra tradução, dor sem nome, dor sem trilho, dor assim não escoa. Ecoa. Efeito bumerangue. Volta e bate na cara até que a força e entusiasmo pela vida evaporem.


Brinquei com meus limites, suportei coisas que não deveria, fui além do que seria possível, não disse "ai" quando doía tanto, represei em mim toda dor. Mergulhei e perdi o fôlego dentro dela. A depressão bateu à minha porta entreaberta, quase escancarada.


Passei tantas noites acordada que era estranho adormecer sem contemplar o sol surgir junto aos primeiros ruídos da rua. O som das portas erguidas na padaria da esquina sinalizava minha "boa noite". E só então, dormia um pouco.


Não sei dizer exatamente como aconteceu. Lembro que ao observar uma fotografia da atriz, Claudia Cardinale, a mesma que ilustra este texto, tive a sensação de que havia ali a liberdade de um doce encontro consigo mesma. O retrato de Cardinale me levou a desejar reconstruir minha existência. Nascia o pseudônimo que uso para escrever. Penso que este tenha sido o primeiro sinal simbólico do sentido: meu renascimento. Foi preciso ser humilde e generosa comigo. Reconheci que precisava e procurei ajuda. Retomei o caminho psicanalítico.


Estou em cena novamente. E voltei a viver, graças à "Dolce Vita".




(*) Foto: Google


http://www.dolcevita.prosaeverso.net

Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 04/08/2009
Código do texto: T1735925
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