CARTOGRAFIA DA ALMA*
Na geografia física a depressão é uma superfície com inclinação suave, mais plana que o planalto, e formada por processo de erosão, ou “forma de relevo em posição altimétrica mais baixa que as porções contíguas”**. Nosso relevo é rico em depressões. Qualquer mapa ou foto panorâmica deste país continental nos coloca diante deste tipo de relevo.
Este termo também é usado na economia, astronomia, anatomia, indústria bélica, além de seus muitos sentidos figurados. Um termo que não se esgota em possibilidade de uso.
Na cartografia de nossa alma a depressão não é muito atraente. Seus vales escondem medos, pesadelos, angústias, pânico, solidão. Um mergulho no vazio de uma alma que agoniza.
A erosão provocada em nossas almas, por síndromes diversas, vai criando uma depressão que, muitas vezes, é vista com preconceito ou descaso. Ninguém escolhe ser depressivo. Podemos escolher ser estrelas. Astros. Podemos fazer dos planaltos nosso palco, mas a depressão não é escolha.
Há quem afirme ser uma doença genética, portanto, ao desembarcarmos por aqui ela já está impressa no mapa de nossa alma. Precisa de tratamento, como qualquer outra patologia.
Ignorar, fazer pouco caso, achar que o tempo, uma viagem, um presente, uma visita no fim de tarde resolve é desconhecer os meandros da alma humana e minimizar as muitas erosões que a depressão pode causar no mapa de nossas vidas.
Depressão não é apenas uma tristeza profunda, um passageiro desapegar-se de si, um espaço vazio esperando ser preenchido. É vácuo. Solidão profunda. Desencontro com o próprio eu. Descompasso de emoções.
*N. A: Peço desculpas aos pesquisadores e portadores desta patologia se as impressões aqui apresentadas não forem reais. Não tenho conhecimento científico sobre o assunto, e minha leituta acerca deste tema tão profundo quanto remoto e atual é limitada. Escrevi meu sentir quando estou diante das pessoas que amo e sofrem deste mal.
**Dicionário Houaiss.