A Morte de D.Ratinho e a palmatória

11/06/2006 12h32
Poesia de Pereira da Costa: A Morte de Dom Ratinho
A MORTE DE DOM RATINHO

Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
O passarinho depenou-se
O cavalo perdeu o pelo
O boi perdeu o chifre
O rio secou a água
O menino quebrou o pote
E o mestre passou-lhe bolos
O que tendes minha porta
Perguntou a laranjeira
Que estais abrindo e fechando?
Pois não, minha laranjeira:
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou...
E responde a laranjeira:
E eu também de sentimento
Deixo cair minhas folhas
Vem o passarinho e pergunta:
O que tendes, laranjeira
Que estais tão desfolhada?
Pois não, meu passarinho
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
E eu assim me desfolhei
Respondeu o passarinho:
E eu também de sentimento
Deixarei as minhas penas
Vem o cavalo e perguntou:
O que tendes laranjeira
Qu’inda ontem tão folhada
E hoje tão desfolhada?
E por que não, meu cavalo?
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
E o passarinho depenou-se
Responde agora o cavalo:
E eu também de sentimento
Deixo cair o meu pelo
Vem o boi e pergunta:
O que tendes laranjeira
Que estais tão desfolhada?
E por que não, meu boi
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
E o passarinho depenou-se
E o cavalo perdeu o pelo
Respondeu então o boi:
E eu também de sentimento
Deixo cair o meu chifre
Passa o rio e pergunta:
O que tendes laranjeira
Que estais tão desfolhada?
E ela responde ao rio:
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
O passarinho depenou-se
O cavalo perdeu o pelo
E o boi perdeu o chifre
Respondeu então o rio:
E eu também de sentimento
Secarei as minhas águas
Vem o menino buscar água
E não a vendo isto pergunta:
O que tendes belo rio
Que ainda ontem tão cheio
E hoje assim tão sequinho?
E o rio respondeu:
Por que não, caro menino?
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
O passarinho depenou-se
O cavalo perdeu o pelo
O boi perdeu o chifre
E o rio secou as águas
Responde então o menino:
E eu também de sentimento
O meno pote vou quebrar
Chega o menino à escola
E não levando o pote d’água
Por ele pergunta o mestre
E o menino assim responde:
Dom Ratinho morreu
Dona Carochinha chorou
A porta abriu e fechou
A laranjeira desfolhou-se
O passarinho depenou-se
O cavalo perdeu o pelo
O boi perdeu o chifre
E o rio secou as águas
E eu quebrei o meu pote
Então respondeu o mestre
Cheio de raiva e rancor:
E eu também de sentimento
Lasco-lhe as mãos de bolos(*)


(Em COSTA, Pereira. Folk-lore pernambucano)

Fonte:Catavento,http://jangadabrasil.com.br/fevereiro30/ca30020b.htm

(*)Nota de Clevane:pela minha infância,ouvi muito esses versos,mas não foi dos que decorei para declamar,sob a supervisão de mamãe(Terezinha do menino Jesus) ou Tia Araçy Suzana Vieira,professora amazonense que passou uns tempos lá em casa,porque era madrinha de meu mano Luiz Máximo e meus pais haviam adotado gêmeas,o terceiro filho,então o garoto ,com pouco mais de um aninho.Ela,solteira,adorava o afilhado-e para ele não ficar "no canto",quando se dizia quando nascia outro bebê na família.Licenciou-se do Educandário onde lecionava e desembarcou nalinda Ilha,onde papai servia,onde moramosantes de vir dar nas Minas Gerais.

No último versos,de A Morte de D.Ratinho,explico,para quem não é nordestino, que "bolos) são palmadas nas mãos,muitas vezes,de "palmatória",noutras de chinela e algumas vezes,bem fofamente,apenas simbólicos...
Quando morei na Ilha de Fernando de Noronha,a professora cobrava a tabuada,correndo em círculo o "X x Y".Se ujm aluno errava,o que sabia tinha de lhe dar "bolos".Eu chorei muito porque sempre sabia e não queriabater no coleguinha.Então,Tia Aracy resolveu-me poupar-me desse inferno particular...

Clevane

"Palmatória",como bem sugere o nome,é um artefato de forma circular, na maioria das vezes,mas também oval ou retangular(parece uma escova de cabelo-e às vezes era mesmo usada uma,que já não possuísse cerdas),para dar palmadas,os "bolos",no côncavo das mãos.Muitos professores ,pais ou avós,batiam nodorso,mas aí,em geral, eram varadinhas...Ainda bem que sempre escapei desse horror.E se um dia fosse assim punida,meus pais ficariam ,por certo,muito zangados com quem me castigasse...rsss...De mamãe,ganhei umas chineladas ,das tais "fofas",mas que horror,tinha de ir buscar a chinela dela ,caseira e leve,de tecido,para "apanhar"-o que se usavaentão.Os pais gostavam de mostrar que sabiam mandar e os filhos,obedientes,"obedecer.A redundãncia é necessária.
A criançada de então,sabia que se fosse boazinha,era amada,tinha valor e...era mais amada!...Buscar o chinelo,não sinal de estoicismo,mas um meio de angariar admiração...
Os tempos trouxeram novas práticas educativas,os filhos agora têm postura diferente em relação aos pais.E a psicóloga que sou,estudiosa da pedagogia Moderna,da crinaça,do adolescente,da nova família,ainda não sabe o que é melhor...Pelo bom senso e pelo saber aprendido,apreendido,atuo,quase sempre,penso,da melhor forma,no aconselhamento,na ludoterapia,na psicoterapia familiar sistêmica,etc.
Sei apenas que duas verdades absolutas sei:violência nada conserta e deve ser evitada.Eu,que não a sofri,sinto-me uma pessoa centrada,boa,que ama o outro e que sabe amar.

Clevane

N:Vc que me lê,se quiser opinar,mandeum e-mail(clevane@yahoo.com.br) ou deixe seu comentário aqui no site.Interessa-me sempre,conhecer a psicologia do comportamento humano hoje e ontem,para deduzir o de amanhã...
Publicado por clevane pessoa de araújo em 11/06/2006 às 12h32
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