Crônicas da Familia Santos - O DVD

A Família Santos, que de santo não tem nada, é a típica união de pai, mãe, filho, filha, avô e cachorro. Moram no edíficio Érico Veríssimo, no apartamento 305. É lá que Aurélio se esconde das contas, e Rita observa os outros moradores com seu binóculo. Além de ser o nicho ecológico do Arthur e o ambiente tedioso da Marina. Sem esquecer de que a dois quartos seguindo pela direita, ao lado do banheiro, está o âmbito secular do avô Adroaldo. Moram há mais ou menos quinze anos no mesmo apartamento, e há longos quinze anos a família continua a mesma, exceto pelas indas e vindas de aventuras que se multiplicam sobre aquele teto.

Certa vez, logo quando surgiu os aparelhos de dvd, Aurélio, o pai metido a ser tecnológico, comprou um desses trambolhos com inúmeros botões de um amigo.

- Usado, Aurélio?

- Lógico Rita, um novo está mais caro que manter seu pai em casa.

Reuniu todo mundo na sala, bem no domingo. Estavam sentados no sofá, como expectadores de uma sala de cinema. Aurélio, depois de meia hora tentando encaixar os cabos certos, ligou o aparelho. Era a hora de colocar o cd dentro do leitor.

- Aperta o botão certo né pai.

- Calma filho, calma porque o seu pai entende disso.

"Deixa-me ver. Play, Stop, Rewi... o quê? Meu Deus, para quê tudo isso. Que botão se usa para abrir. Marina, o que significa open?"

- Abrir, pai. E anda logo porque o Felipe vem me buscar.

"Abrir. Acho que é aqui. Abrir. Abre, já apertei."

- Qualé Aurélio, que horas isso vai passar? Falei para não comprar essas coisas usadas, ainda mais vindas do Figueira.

- Calma Rita, calma.

Quase trinta minutos depois, o leitor nada de sair, todo mundo futricando e metendo o dedo no aparelho. "O manual, leia o manual", "desliga e liga de novo", "troca por um VHS que é garantido", "acho que tem um cd lá dentro".

- Possivelmente é o CD que o Figueira disse que vinha de brinde. Sentem todos lá no sofá de novo, façam companhia para o seu Adroaldo. Acho que agora eu consegui.

Finalmente um sinal de vida do aparelho funcionar. Uma tela no televisor apareceu escrito:

Somos contra a reprodução proibida. Use camisinha.

- Agora sim. Vamos, vamos, sentem, sentem. Vou apertar o play.

Sem olhar para a tv, ainda com os dedos no aparelho, o pai aperta o play. Uns gemidos, uns "aii, ohh, shit", "Ohh My God" se ouvia. Aurélio olhou para a familia, todos com uma cara de assustados,por fim olhou para o televisor.

Um filme pornô estava rodando no aparelho, e o pior, era da Rita Cadilac. O avô até acordou e se sentou melhor no sofá.

- Filme que vinha de brinde, Aurélio? Muito bom esse teu amigo.

Todos sairam da sala e o filho cochicou no ouvido do pai

- Rita Cadilac, pai? Por favor né! - olhou para os lados, para ver se ninguém estava ouvindo - Segunda gaveta do meu guarda-roupas. E devolva do jeito que pegar.

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 03/08/2009
Reeditado em 03/08/2009
Código do texto: T1734492
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