A figura de um estranho

01-08-2009

O esmorecer de minhas tardes

É um estranho que a esmo vejo.

A vagar, combina propriedades de várias matérias.

E não pode ser identificado, lobrigado, por nada –

Mesmo que o nada não seja coisa alguma.

O estranho é uma figura idiossincrática, como todos.

Um ser, todavia, mutilado pelos larídeos do contínuo dever da vida.

Passa. Fazem-lhe troça.

Sem desespero, ele os olha; vê-os todos.

Não os compreende – e nem poderia:

Em uma de suas faces há profundo desengano com o mundo –

E digo que ainda assim ele não o deixa de amar.

Carrega, corre. É pesado; cai.

Levanta (sempre levanta).

Contaram que a gravidade puxa para baixo;

A expressão daquela face é a do lírio que nega o beija-flor.

Como se tudo passasse num segundo,

Vem-me a noite.

Com ela, vai o próspero estranho desalmado.

O estranho olha-me de última vez.

E, dentro dos nossos olhos,

Éramos um só.