POR ESTE MUNDO DE DEUS (e nosso!)
... Achei que voltaria cheia de palavras, mas voltei calada.
Não sei onde estão as emoções da minha viagem e a lembrança delas em tudo que vi e vivi. Olho as fotos procurando por elas. Espero um pouco, olho novamente, mas não encontro. Nem as emoções nem as palavras. Existem, mas estão caladas. Não sei porque...
Caminhei por seis países. Viajei sozinha. Gosto assim. Prefiro porque não me disperso com as vontades diferentes das minhas. Viajo pra me encontrar...
Fui ver a França, seus champagnes, seus escargots, o Louvre, a Monalisa, a Torre Eiffel, arcos e triunfos franceses. Fui ver Versailles e seus jardins, Mont Martre e suas delicadezas, a Sacre Coeur e sua fé, o império louco e megalomaníaco de Napoleão, mas o que mais fez meus olhos deslizarem por ele foi o Rio Senna...
Fui ver a Suíça, seus chocolates, seus relógios, os Alpes e suas vacas com sininhos no pescoço. Escutei o idioma, mas o ininteligível é a forma escrita com tantas consoantes e quase nenhuma vogal. Subi em suas torres, mas o que mais fez meus olhos deslizarem por eles foi o Rio Limmat e o Lago de Zurique...
Eu fui ver também a Holanda, seus queijos, suas vitrines de pessoas, suas milhares de bicicletas, tantos gatos e barcos, tanta liberdade e libertinagem em Amsterdam. Vi suas igrejas, ouvi suas histórias, senti os cheiros e perfumes, flores, tulipas... Mas por onde meus olhos mais deslizaram foi no canal do bairro de Jordaan (bairro onde viveu Anne Frank).
Depois a Escócia e o impressionante medievalismo daquele lugar, tão presente, tão intacto que me deixou arrepiada. Ouvi as histórias de bruxos, bruxas, fantasmas e monstros, visitei as cidades vickings no subsolo, cunhei uma moeda pra me dar sorte, esperei horas pelo monstro do Lago Ness, fiquei encantada ouvindo a gaita de fole tocada por um escocês, com sua kilt xadrez de verde e preto, quis ligar pro meu pai pra que ele ouvisse aquela música, mas por onde meus olhos mais descansaram foi pelo Lago Ness, pelas Terras Altas e sobre a margem sul do Rio Forth (Firth of Forth)...
Cheguei na Itália, com suas cores e flores, suas massas, seus vinhos, seus encantos, seu povo falante e impaciente, suas raízes profundas. Provei seus sorvetes, visitei o Vaticano, vi as maravilhas inexplicáveis de Michelangelo, caminhei pelas Arenas, não gostei do que senti dentro delas, fui a festivais de jazz e de óperas, admirei as roupas, a moda, os ternos, as gravatas, mas descansei olhando o Mar Adriático da janela do trem, enquanto percorria a costa... Estendi os braços, na direção do céu, agradecendo por estar na Ponte de Rialto, passeando em suas gôndolas naquela noite de lua cheia...
Na Inglaterra acertei meu relógio com o Big Bem, passeei pelos jardins reais, fui aos monumentos, vi a troca de guarda, me aproximei dos enormes cavalos, senti sua respiração ofegante, chorei no museu dos Beatles, dancei no pub The Cavern em Liverpool, vi Londres pequena quando a London Eye parou lá em cima, me encantei em Camden Town com a estrebaria que virou lojas, me emocionei diante do famoso quadro Girassóis, de Vincent van Gogh, mas, quando descansei, foi sentada próxima a ponte Tower Bridge, olhando o Rio Tâmisa...
Tenho vontade de conhecer o mundo. Tenho vontade de cruzar todas as linhas, estar nos trópicos, subir todas as montanhas, fotografar e admirar todas as flores e árvores... Tenho vontade de caminhar pelos desertos, me esgueirar pelas grutas, escalar picos, me abrigar em cavernas... Tenho vontade de estar em muitos lugares, sentir todas as diferenças... Tenho vontade de mergulhar!
Vou, fico, às vezes, muito tempo, parece que em cada um dos lugares tem um pedacinho de mim... Me pergunto se moraria ali... Sempre penso na possibilidade de me instalar em outro país, quando alguma coisa me toca muito, mas carrego um patriotismo sereno. Sei que vou voltar. Sei, também, que moraria apenas onde fosse repleto de natureza, de flores, arbustos, árvores, animais e perto, bem perto de um lago, rio ou de um mar...