Tempestade (EC)
Já se sabia que algo aconteceria.O ar mudou,se aqueceu,estagnou e nada mais se moveu,tudo parou,num tempo sem pressa.Filetes de algodão se transformaram em grupos de nuvens cor-de-rosa.
Sufocava-se no calor resistente ,suores não desejados,enervantes
se faziam presentes nas faces mais comportadas.A leve brisa que finalmente soprou,trouxe um breve alívio,pois um tímido despertar de inquietação anunciava-se no céu outrora rosa,agora cinzento.
A tímida brisa cedeu lugar a ventania,que não respeitou lugares,
espaços e nem idades.Nuvens negras chegaram de repente,e antes da
água,raios e trovões afirmavam a intenção daquela chuva.
Exageradas rajadas de vento em fúria, levantavam os sonhos e a vida que não podia estar mais frágil nesta hora...
Leva de gotas grossas machucaram a terra,parecendo pregos!
O barulho do martelar aquoso apavorou as crianças,os solitários e ensurdeceu quem não tinha abrigo.O medo se espalhou entre raios,
trovões e relâmpagos,apocalíptico.E ricocheteou nas paredes,pátios,
igrejas,carros,fábricas,arrancou lágrimas e apagou certezas.
Nos cantos das casas,das ruas,fortes cachoeiras surgiram onde antes
haviam escadas,jardins,estradas.Engrossou riachos,elevou os rios.
A tempestade mudou a cor das folhas,revelando o verde escondido
debaixo da fumaça do dia-dia,lavando a vida,limpando a sujeira encoberta,mas arrancou a frágil raíz de algumas flores e um futuro jardim se deslocou no meio-fio,nunca chegando a acontecer.
A surpresa maior foi o granizo,denso,duro,impiedoso.Caiu ruidoso sem ver alvo,furando telhados,deformando tetos dos carros,matando pássaros nas árvores,ferindo o gado desatento nos campos e os mendigos que procuraram abrigo debaixo das marquizes e caixotes.
Poucos se atreveram a sair e a desafiar a tempestade em sua fúria.
Não foi prudente,mas só o indipensável e necessário justificaram a atitude.Pensamentos em prece seguiram os passos,na esperança de proteção.A fé surge ou se renova no medo.
Quando o vento finalmente cedeu,e levou embora as nuvens,poças brilhantes refletiam por igual as imagens do que antes era conhecido,
inteiro,ficando só o rastro uniforme das águas invasivas, evidências de sua passagem,no final.E a vida recomeçava seu curso,novamente.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Fenômenos da Natureza
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