JOGANDO A TOALHA
Não é fácil avaliar o tempo de jogar a toalha. Deparei-me com duas indagações feitas pela teológa Maria Newnum, que me fez parar pra pensar: Como saber, por exemplo, até que ponto seguir numa relação afetiva que, mesmo após investimento razoável de tempo, não atingiu um patamar desejável de crescimento ou de prazer que garantam um pouco de felicidade? Até que ponto agüentar a rotina torturante do ambiente de trabalho que não traz retorno financeiro nem profissional? Mas ao contrário, causa estress e atrofia intelectual e profissional.
Se eu me sentisse envolvida afetivamente de modo nada prazeroso, recorreria aos manuais de auto-ajuda? Nem pensar, o melhor a fazer seria recorrer ao bom senso, “apagar” a luzinha verde e partir para avaliar as circunstâncias da vida.
E tentar mudar de hábitos, naturalmente. A começar com... O que mais gosto de fazer? De pronto respondo: ler e escrever, acima de tudo. Deixo-me envolver pelas leituras que faço e elas refletem no que escrevo? Respondo: naturalmente que sim. Então, mudemos as leituras. Por que não ler Pedro Doria e discutir o relacionamento Jerusalém/Palestina ao invés de Samuel Beckett e ficar eternamente “Esperando Godot”,na condição de espectadora do teatro do absurdo, embora aprove a riqueza metafórica e a visão pessimista do autor acerca da fé no gênero humano?
E por que não a leitura de Kafka? Quem sabe se eu não sou uma versão de Gregor Samsa, que despertou uma manhã na sua cama de sonhos inquietos e viu-se metamorfoseado num monstruoso inseto? E que essa metamorfose operou-se além da modificação física. É, sobretudo, uma alteração de comportamentos, atitudes, sentimentos e opiniões.
É, pode ser... Por enquanto ficarei por aqui na condição de inseto,observando os meus novos membros, órgãos e hábitos e espero com o tempo me acomodar, embora sem entender no que me tornara.