AMOR PELO PREÇO DA TABELA
Fechou a reserva da suíte no motel. A promoção garantia velas acesas, pétalas de rosas e uma banheira transbordando de espuma com perfume de morango. Tudo isto pelo preço de três horas da tabela.
A idéia surgiu no segundo encontro, quando se fez de rogada e não entregou o ouro (e nem o baú) ao bandido.
Precisava conferir melhor o terreno. Até que o bandido lhe desse a certeza de ser bom moço. Neste caso, bom homem, pois ele já passara dos cinquenta. E ela, na cátedra dos mais de quarenta vividos, tornara-se mestre em saber que uma vasta (ou rala) cabeleira branca não era nenhuma garantia.
“Os cafajestes também envelhecem”. Aprendera isto dia após dia, desde que seu estado civil passou a ser divorciada.
Resolveu ouvir a voz da própria experiência esculpida à talha de decepções. Decidiu entregar o ouro no terceiro encontro. Então, fez a reserva e a preparação.
Por baixo a calcinha rendada cobrindo a depilação milimetricamente primorosa; formando um par perfeito com o sutiã da mesma cor. Por cima cobertura discreta, quase inocente: vestido estampado e scarpin preto.
O espelho indagava por todos os cantos: “Tem certeza”? E antes que ela mesma desacreditasse, maneou a cabeça com a veemência das mulheres corajosas e pôs o medo para dormir. Iria sair sem ele desta vez.
Chamas tremulando em volta da banheira lembraram-lhe um balé sedutor de bailarinas silenciosas. Sentiu-se a própria gueixa ensaiando a dança para encantar o cliente.
Arrancou a faixa que prendia o roupão de seda e viu-se nua no espelho. Não era o momento de contabilizar celulites ou gordurinhas inoportunas adquiridas com o passar do tempo... Afundou o corpo na água morna entre pétalas com perfume de morango. “Diabo de espelhos que não sabem mentir!”
A porta do banheiro se abriu. A silhueta desnuda aproximou-se segura, apesar da imperfeição do contorno desenhado pelo passar dos anos. “Diabo de seres masculinos que não precisam se esconder!”
Era hora de calar os pensamentos. De ficar surda a todas as dúvidas. De ordenar que o temor continuasse dormindo em casa.
Um estouro joga a rolha para longe. O champanhe inunda as taças e se mistura à água morna, às pétalas e ao perfume de morango.
O coração descompassa num misto de esperança e de tristeza. Será que seus olhos denunciariam o verdadeiro motivo de ter feito aquela reserva?
“Os homens fogem de compromissos sérios.” Aprendera isto dia após dia, desde que seu estado civil passou a ser divorciada.
Melhor fechá-los. Era hora da entrega.
Escolhera aquele momento. E sabia, melhor que ninguém, que na promoção de extras pelo preço de tabela não estava incluído o amor.
...Por outro lado, se ninguém pode afirmar qual o tempo necessário para que ele nasça... Então, três horas poderiam ser suficientes...